sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Novidades 2008 - A retomada do Blog


novo cinema novo
Na faixa dos 20 anos, uma geração estréia no cinema embalada por prêmios e exemplos de sucesso



Na esteira do sucesso de José Padilha, Fernando Meirelles e Walter Salles, uma nova geração de cineastas colhe prêmios antes de sair da faculdade

Maria do Carmo/Folha Imagem

Alunos do quarto ano de cinema da Faap durante preparação do
curta-metragem de conclusão do curso na Vila Mariana


luz, câmera e diploma por Roberto de Oliveira e Mariane Morisawa

Cena 1. Num casarão na Vila Mariana, sábado é dia de filme para uma família de 12 descendentes de italianos. Prólogo da sessão, uma festança.

Cena 2. Silêncio. O VHS começa a rodar "Ladrões de Bicicletas", de Vittorio de Sica.

Cena 3. Sem desgrudar os olhinhos da tela, um garoto de cinco anos matuta. Que fascínio é aquele que emudece crianças e adultos?

Corta. Dezenove anos mais tarde, o menininho é o rapaz Gregório Graziosi. Continua espectador de filmes, só que agora põe a mão na massa. "Descobri criança que minha paixão era o cinema italiano. Não conseguiria fazer outra coisa", diz. Aos 24 anos, já fez três curtas. O primeiro deles, "Saba", participou de Cannes no ano passado, após correr festivais mundo afora. O filme, de 16 minutos, olha em close a vida de um casal idoso, recluso, que aguarda a morte. Detalhe: os personagens são o bisavô do cineasta, Porphirio, 98, e a bisavó, Francisca, morta no ano passado, aos 103 anos.

Estudante do último ano de cinema na Faap (Fundação Armando Alvares Penteado), Gregório trabalha desde o semestre passado numa produtora, a CinemaLink Filmes. A empresa, recém-inaugurada, tem como plataforma o cinema digital. Ele integra uma nova geração que começa a se profissionalizar em um mercado em expansão, embalado pelo reconhecimento internacional de produções recentes.

Com o fim da Embrafilme na era Collor, em que o cinema nacional deixou de existir, para hoje, a diferença é brutal. São cerca de cem filmes produzidos por ano, o que implicou na profissionalização da atividade. A chance de repercussão de um filme não está mais nas mãos do diretor exclusivamente. Produtoras como a O2, a Gullane Filmes, a Dezenove, a Conspiração e a Videofilmes tornaram-se grifes que chancelam a qualidade dos projetos.

O sucesso de longas como "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, e de "Tropa de Elite", de José Padilha, premiado com o Urso de Ouro do Festival de Berlim, no sábado 16, impulsiona a procura por carreiras relacionadas ao cinema. Na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, o curso superior de audiovisual foi o quarto com maior relação candidato-vaga em 2007: 40,09. Fica atrás apenas de jornalismo, publicidade e propaganda e relações internacionais e à frente de medicina. Foram 1.287 inscritos para 35 vagas.

Marco Dutra, 27, fez ainda na ECA o curta "O Lençol Branco", exibido na mostra Cinefondation, em Cannes. Ele entrou na faculdade em 1999, um ano depois do lançamento de "Central do Brasil", de Walter Salles, que concorreu ao Oscar de filme estrangeiro. "Já havia exemplos de filmes que diziam que cinema era uma coisa que dava para fazer no Brasil", conta . Ele aponta outras razões para a explosão de vocação para a sétima arte no país. "Hoje é uma carreira muito sedutora. As pessoas acham que é possível entrar neste mundo, ser feliz e famoso."

Sua colega de faculdade e parceira em "O Lençol Branco" e em "Um Ramo", premiado na Semana da Crítica em Cannes, Juliana Rojas, 26, encarou o desafio de um mercado ainda incipiente: "Não avaliei os riscos. Havia uma certa euforia na época da faculdade". Com um diploma na mão e várias idéias na cabeça, Juliana finaliza o curta "Vestida" e prepara, também com Marco Dutra, o longa "Trabalhar Cansa", a ser rodado no final de 2008. "Achei que ia demorar mais para fazer o filme, mas tive sorte de realizar dois curtas que ganharam reconhecimento."

Exemplos como os de Juliana e Marco embalam os sonhos de quem presta vestibular para cinema. Novos cursos foram criados, como o da Universidade Anhembi Morumbi, que forma sua primeira turma em dezembro deste ano. São cerca de 250 alunos, com a entrada de cem novos estudantes a cada ano. E pipocam cursos técnicos, de pequena duração, voltados para áreas como direção de arte e produção.

Foi esta a opção de Ciro Saboya Gomes, 23, aluno do curso técnico de operador de câmera do Senac. Filho do deputado Ciro Gomes e da senadora Patrícia Saboya, ambos pelo PSB-CE, ele mudou-se do Ceará para São Paulo para tentar se profissionalizar, depois de fazer estágio nas filmagens do longa "Zuzu Angel". "Foi o cinema que me achou. Estudava publicidade havia um ano e meio, em Fortaleza, mas estava descontente", relata Ciro, que trancou a matrícula ao aceitar o convite inesperado do diretor Sérgio Rezende. "Fui com meu pai assistir à filmagem num fim de semana. Fiquei como estava. Comprei três camisetas brancas e três pretas e pronto."

Saiu do set com uma certeza: "Quero ser produtor e diretor de documentário". Já fez o primeiro, "Antártida", e trabalhou com Patrícia Pillar, atual mulher de seu pai, no filme sobre o cantor Waldick Soriano. "O sucesso do cinema brasileiro motiva", avalia . "Não sei se dá para sobreviver de cinema, mas isso é preocupação em qualquer profissão."

Nem todos os recém-formados enveredam-se pela direção. Pierre de Kerchove, 28, concluiu o curso pela ECA no ano passado, mas optou pela fotografia. "Se você não tiver uma pessoa conhecida na área para te apadrinhar, é bem complicado ser diretor", conta ele, que, como fotógrafo, leva no currículo o prêmio geração 14plus, do Festival de Berlim, conquistado pelo curta "Café com Leite", de Daniel Ribeiro.

Tapa na telona
Para essa turma estreante, a máxima do cinema novo, uma câmera na mão e uma idéia na cabeça, se completa com os dedos no computador. Não dá para falar dessa garotada sem associá-la à internet. A web é usada para baixar filmes, divulgá-los, contatar outros cineastas, acessar blogs, pesquisar e participar de fóruns. "Hoje em dia, todo mundo pode montar um filme no computador de casa", afirma Paulo Sacramento, montador de "Amarelo Manga".

Exemplo de como a rede de computadores pode ser poderosa aliada é o sucesso do cineasta Esmir Filho, 25. Dois anos atrás, ele ganhou popularidade após colocar no YouTube o vídeo ''Tapa na Pantera''. A obra cult foi responsável pela redescoberta da veterana Maria Alice Vergueiro. No vídeo, a atriz, de 72 anos, aparece explicando por que fuma maconha.

O cineasta dirigiu uma série de vídeos para a internet, além de premiados curtas. "Sempre gostei de contar história", diz Esmir. "Aos 15 anos, quando vi pela primeira vez o filme 'Noites de Cabíria', de Fellini, me dei conta de que as imagens falam mais que a escrita. Decidi que cinema era o meu caminho."

Formado em 2004, Esmir anda empolgado. Começa a rodar seu primeiro longa em junho: "Os Famosos e os Duendes da Morte". Foi o único filme da América Latina selecionado entre 25 projetos pelo Berlinale Co-Production Market (Festival de Berlim 2008), que procura parceiros e investidores europeus e acompanha todo o processo de produção.

O filme retrata a vida de um garoto de 16 anos, fã de Bob Dylan, que assiste ao mundo pelo computador, em meio ao tédio de uma cidade do interior. O primeiro longa do cineasta será produzido pela Dezenove Som e Imagens, nome por trás de sucessos como "Bicho de Sete Cabeças", de Laís Bodansky, "Durval Discos", de Anna Muylaert, e "Cinema, Aspirinas e Urubus", de Marcelo Gomes. A propósito: todos eles, filmes de estréias desses diretores.

Sara Silveira, 57, produtora, desde 1983 no mercado cinematográfico, enxerga uma explosão de novos talentos. Segundo ela, o número de cineastas atrás de realizar o primeiro filme aumentou 70% nos últimos cinco anos. O perfil também mudou bastante. No início dos anos 00, a faixa etária dos diretores, que estreavam em longa, variava de 35 a

40 anos, diz Sara. Hoje, quem está por trás das câmeras tem 24, 25 anos. "Os jovens exibem mais disciplina que os cineastas consagrados", compara.

Para a produtora, a premiação de "Tropa de Elite" acena para um cenário favorável ao cinema brasileiro lá fora. "A comunidade internacional está interessada no Brasil. 'Tropa' vai ajudar a dar impulso na produção nacional." O bom momento da economia, os incentivos fiscais por meio de leis, como a Rouanet e a do Audiovisual, e o aumento de lançamentos corroboram o surgimento de novos talentos.

É essa a aposta de Caroline Okoshi Fioratti, 22, que desde os 12 queria ser cineasta e termina o curso de cinema neste semestre. Vai filmar "Formigas", obra de conclusão dos estudos, sobre imigração japonesa. É assistente de Carlos Cortez na Gullane Filmes há um ano e meio. "Descobri que ele estava filmando 'Querô' e fui entrevistá-lo. Ele acabou me chamando para ser sua assistente", conta ela, que já atua no próximo filme do diretor. "Foi importante cursar a faculdade e trabalhar ao mesmo tempo", avalia. "É difícil viver de cinema. Tem que amar muito."

Cartão de visita
O caminho das pedras rumo ao longa-metragem segue um modelo semelhante ao que ocorre na Fórmula 1. Nela, os pilotos dão as primeiras aceleradas no kart. No cinema brasileiro, esse veículo é o curta. Como ocorre muitas vezes nas pistas de corrida, a trajetória no cinema é quase sempre bancada pelos pais. Filho do cartunista Paulo Caruso, Paulinho, 24, concluiu o curso de cinema no ano passado.

Ele faz o balanço: "De 2002 a 2005, paguei para trabalhar. Em 2006, fiquei no empate. Só em 2007 os investimentos começaram a dar retorno". No ano passado, Paulinho voltou de Gramado (RS) com três Kikitos: melhor filme curta-metragem, melhor roteiro e melhor montagem por "Alphaville 2007 d.C.". O curta, selecionado para o festival deste ano de Tampere, na Finlândia, teve orçamento de R$ 15 mil, 80% bancado pela Faap, onde Paulinho estudava.

Eliseu Lopes Filho, 49, vice-coordenador do curso de cinema da faculdade, diz que a Faap disponibiliza equipamentos, filmes e infra-estrutura para os alunos realizarem seus curtas curriculares e de conclusão. "Caso contrário, eles não teriam condições de viabilizar os filmes." Criado em 1972, passaram pelo curso de cinema da instituição cerca de 3.000 estudantes, entre eles Beto Brant e Laís Bodansky.

Os curtas são o cartão de visita do futuro cineasta. Foi graças ao sucesso de seu filme que Paulinho foi convidado a trabalhar na produtora O2 Digital, um departamento da O2 Filmes, gigante na produção de cinema, comerciais e séries de TV, fundada por Fernando Meirelles e Paulo Morelli. Dinheiro, acredita Paulinho, ele pretende ganhar com filme publicitário. "O Fernando ensinou nossa geração que publicidade nos dá hora de set com o que existe de mais so?sticado. Você aprende a lidar com equipamentos, mão-de-obra e a queimar negativos", conta.

Viver de cinema é projeto de longo prazo, em um mercado que engatinha. O diretor de arte Cássio Amarante dá bem a idéia do que espera os futuros colegas: "As condições de trabalho não são boas. Não tem plano de saúde nem aposentadoria".

Mas o encanto do cinema embala sonhos de veteranos e de estreantes. "Existem todos esses problemas, mas é delicioso", contrapõe Cássio.

As principais profissões ligada ao cinema

Maria do Carmo/Folha Imagem

Ciro Saboya Gomes, 23, fez estágio em "Zuzu Angel"
e aposta num curso técnico de operador de câmera


Diretor: é o maestro do filme, quem rege todos os departamentos e tem a visão global da concepção do longa-metragem. Em geral, quase todo mundo que faz faculdade de cinema vira diretor ou quer se tornar diretor. Sempre há os que não se formaram em cinema. Fernando Meirelles, por exemplo, é arquiteto. Vários diretores trabalham também com publicidade. Normalmente, o primeiro trabalho de um diretor é um curta-metragem. No Brasil, começa a aparecer a figura do diretor contratado por uma produtora para dirigir um projeto e não um filme próprio.

Roteirista: É o autor de cinema, responsável por colocar no papel a trama estruturada e com diálogos. A maior parte não se formou em cinema, até porque os cursos não tinham especialização na área. "É raríssimo que alguém saia roteirista da faculdade. Em geral, a formação se dá no campo, em cursos livres", diz Di Moretti, presidente da associação Autores de Cinema, que não se manifesta sobre pagamentos. "Cada roteirista deve cobrar o que acha que merece." Como o edital de roteiro do Ministério da Cultura premia com R$ 50 mil, consideram este o piso do cachê. Sobreviver só de roteiro é difícil. "Tem uns cinco ou seis no Brasil", diz o roteirista Cláudio Yosida, de "Os 12 Trabalhos" e "De Passagem".

Diretor de fotografia: É o responsável por viabilizar tecnicamente e artisticamente, em imagens, as idéias do diretor. Muitos se formam na prática, mas boa parte sai da faculdade de cinema. Em raros casos, um fotógrafo de still consegue virar fotógrafo de cinema. Segundo Hélcio Nagamine, diretor de fotografia de "Querô", o percurso é longo. "É muito por aprender. Fotografia tem uma parte artística, mas também uma técnica complicada. Você precisa saber um pouco de geografia, astronomia, física e química", explica ele, que atua também como fotógrafo na imprensa. "Demora para você fazer um longa. No mínimo, são dez anos para se estabelecer como diretor de fotografia." Em geral, começa-se como segundo ou terceiro assistente de câmera.

Montador: Além de fazer os cortes nos momentos certos e com continuidade de movimentos, é responsável por dar ritmo e por encontrar no material bruto filmado as melhores tomadas e a melhor maneira de contar a história depois de rodada. A maior parte dos montadores se forma na faculdade de cinema. Paulo Sacramento é diretor e montador, mas sobrevive graças aos trabalhos de montagem. Ele diz que há espaço para os novos. "Faltam montadores qualificados", afirma. Para os bons, não falta trabalho, mas a formação não pode ser só técnica. "É preciso ver muito filme. E rever. O montador precisa entender da vida, entender os personagens."

Diretor de arte: Coordena equipes grandes, responsáveis pela cenografia, figurino, maquiagem, ou seja, toda a parte visual. Em geral, a equipe de arte vem de outros cursos que não o de cinema, pois normalmente não há formação específica. São designers, artistas plásticos, desenhistas industriais e arquitetos, como o diretor de arte Cássio Amarante, de "Abril Despedaçado" e "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias". "Não existe diretor de arte recém-formado. São profissionais que precisam ter experiência de vida, carga cultural." Segundo ele, falta mão-de-obra qualificada na área.



O Rambo da periferia

Ao contrário do guerreiro americano, Capitão Nascimento é uma anomalia, um herói fracassado que não tem acesso aos valores morais da sociedade

Divulgação

O ator Silvester Stallone em cena de "Rambo 4"; à direita, Wagner Moura como Capitão Nascimento em "Tropa de Elite"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Em "Rambo 4", John Rambo está na Tailândia. É um homem amargo e solitário, que não acredita nos outros homens.
Do outro lado da fronteira, em Mianmar, milicianos esmagam uma revolta muito mais pelo prazer de fazer mal aos outros do que por um (inexistente) espírito profissional. É nessa selva que um grupo de médicos e pregadores pretende se aventurar, com a arrogância da ciência e da fé. Rambo desaconselha a aventura, mas acaba levando-os no seu barco.
Entregues à própria sorte, os missionários caem nas mãos dos sádicos governamentais. Um grupo de mercenários é contratado para efetuar o resgate. O barco de Rambo novamente é convocado. Apesar de toda a arrogância (a do saber militar, desta vez) do líder dos mercenários, na primeira chance ele quer pular fora.
É bem aí que o instinto do guerreiro vai se manifestar e John Rambo proclamará que "ou vive-se por nada ou morre-se por uma causa".
Não há nenhuma causa, essa é a verdade, exceto a atração que exerce sobre ele a pregadora Sarah, que pode não ser uma Catherine Zeta-Jones, mas para aquela selva está mais que satisfatória.
O quadro está completo: 1) uma causa política -restituir a Mianmar os direitos humanos; 2) um objetivo humanístico -levar a fé cristã a esse povo bárbaro; 3) um objetivo militar -demonstrar a superioridade ocidental (e americana) a esses sub-homens; 4) um objetivo metafísico -reencontrar o espírito guerreiro.

Salvar o mundo
Talvez o ideário de Rambo não tenha mudado muito desde o segundo exemplar: trata-se, sempre, de salvar o mundo, mesmo à custa do desprezo de seus concidadãos (aqui os missionários torcem o nariz até quando ele lhes salva a vida).
Podemos dizer, ao primeiro olhar, que é o velho imperialismo americano em ação. No espírito do Partido Republicano, que não por acaso Sylvester Stallone apóia. Talvez seja isso mesmo. Mas, se Rambo permanece um herói americano, a despeito das intervenções no mínimo controversas dos últimos anos, é menos por pregar uma espécie de antiisolacionismo do que por encarnar uma virtude muito americana.
Sem estabelecer um juízo sobre a, digamos, qualidade de seu heroísmo, ele é herói porque representa uma nação em que, se você tem algo a fazer, deve fazer direito e até o fim.
No Brasil temos um herói recente, na pessoa do Capitão Nascimento de "Tropa de Elite". Ele sobe o morro nas piores circunstâncias, desafia os traficantes, combate os corruptos e acomodados da polícia e não se dobra a certos preceitos civilizados (como o de não torturar suas vítimas) que costumamos associar a fraqueza no combate ao crime.

Acordo tácito
Breve, Nascimento é o nosso Rambo. Ou quase.
Porque, a despeito da solidão a que é condenado, do desprezo que muitos lhe dedicam, existe um acordo tácito, garantido pelo pragmatismo americano, que insere Rambo numa ordem: a da eficiência, do fazer bem-sucedido.
Já Nascimento é uma anomalia (assim também os recrutas que trabalham com ele).
A classe média que o elege como herói tem seus motivos: só um cara assim, à frente de uma tropa competente e impoluta, para limpar o Rio de Janeiro, triunfar nessa até aqui inglória guerra do tráfico e liquidar o espírito mafioso que se estabeleceu.
Nascimento criou-se, em nosso imaginário, como uma mistura de Rambo e Elliot Ness (mais algo como um sociólogo capaz de nos libertar das invencionices de Foucault e outros que envenenam nossos universitários -porque, se nada funciona, a culpa deve ser da cultura, esse veneno).
O que os fãs do capitão Nascimento talvez não tenham notado no filme é que seu herói é mais fracassado do que o Homem-Aranha. Para ser quem é, ele não pode preservar o casamento, ele não tem direito nem sequer à paternidade.
Numa sociedade moral (em que seus princípios se mantenham minimamente coesos), o sujeito que rouba ou que mata é uma anomalia. O policial corrupto é um criminoso. Etc.
O combate ao crime, ao erro, faz parte natural da existência e da cultura (ver os inúmeros filmes policiais).
No Brasil, sabemos que as coisas não funcionam assim, e é nessa medida que os heróis de "Tropa de Elite" aparecem como seres dignos de admiração e imitação. São exemplares, o que não significa que sejamos capazes de imitá-los.
Tudo se passa como se o mundo simbólico, do cinema no caso, não devesse ter relação com o mundo empírico, de tal modo que Nascimento só existe como ser ideal. O sujeito que o evoca, assim como se evoca o Super-Homem, é o mesmo que não admitiria um policial perto de sua filha. O mundo das imagens não é, em definitivo, o mundo real.
Como se nossa experiência cultural conduzisse a um tipo de esquizofrenia, em que nos miramos e de certa forma aspiramos ao heroísmo cultivado pelo cinema americano, mas somos simplesmente incapazes de inserir esse tipo de experiência na nossa vivência cotidiana. Porque Nascimento é tragicamente cortado de sua sociedade.

Em seu mundo
Ainda que vivendo na Tailândia, isolado, ignorado por todos, John Rambo está de certa forma em seu mundo, é capaz de reencontrá-lo. Já o capitão está cortado de seu mundo: o Bope, mais que uma tropa de elite, é um refúgio, um lugar que constrói à sua imagem e semelhança, mas que, para existir, o isola até mesmo da mulher e do filho.
Porque o seu mundo é o da eficiência e de uma lógica simples: se a polícia existe para combater o crime, ela não pode se associar a ele. Mas o capitão vive em um mundo que não foi feito para funcionar. Podemos elogiar ou questionar à vontade seus métodos e idéias.
O problema não está em eventuais virtudes ou defeitos, mas no fato de ambos existirem numa esfera exclusivamente simbólica, a do cinema, como se não concebêssemos mais, como real, outra sociedade que não a do espetáculo.
Esse mundo simbólico que não mantém relação com o real é tão doentio quanto a incapacidade de distinguir os heróis do cinema da vida. Nesse sentido, "Tropa de Elite" é um fenômeno terrivelmente saudável, entre outras porque desvenda alguns dos impasses em que vivemos afundados.

Conheça os longas-metragens da série americana Rambo - Programado para Matar (1982)
John Rambo é um veterano de guerra que tem flashbacks de torturas sofridas no Vietnã, ao ser preso injustamente em Washington. Ele enfrenta policiais em uma guerra particular na floresta, mas se rende.

Rambo 2 - A Missão (1985)
Preso, Rambo tem uma oferta para ganhar a liberdade caso retorne ao Vietnã para resgatar presos americanos. Lá, descobre que a missão era uma armadilha e tem apenas faca, arco e flecha para sobreviver.

Rambo 3 (1988)
O veterano busca paz espiritual em um templo budista na Tailândia, mas seu retiro é interrompido quando se vê forçado a resgatar seu amigo e mentor, coronel Trautman, preso por soviéticos no Afeganistão.

Rambo 4 (2008)
Ele volta à Tailândia, mas, após 18 anos de vida pacata, entra novamente em ação para resgatar um grupo de missionários que é seqüestrado pelo Exército de Mianmar quando levava comida para a tribo karene.


Nascimento e morte

Filme de José Padilha representa ao mesmo tempo ruptura e continuidade em relação ao cinema policial brasileiro


Antielitismo rasteiro é um dos principais responsáveis pela grande empatia do filme

RAFAEL DE LUNA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O principal mérito do longa-metragem "Tropa de Elite", de José Padilha, é o de despertar controvérsias. E elas vão continuar, apesar da unanimidade que se tenta impor justificada pelo enorme sucesso de bilheteria (que salvou do fiasco comercial o cinema brasileiro em 2007), pelos elogios de parcelas da crítica que encontram inegáveis qualidades estéticas na obra (freqüentemente avaliadas como divorciadas da política) e, mais recentemente, por ter ganho o Urso de Ouro no Festival de Berlim, no último dia 16.
A premiação internacional serviria para "calar" aqueles que ainda insistem no debate, sob o risco de estarem investindo contra os interesses do cinema brasileiro ou parecerem ignorantes teimosos que não "compreenderam" o filme. Ainda assim, insisto.
"Tropa de Elite" segue a tese do filme anterior de José Padilha, o documentário "Ônibus 174", expressa claramente na narração do sociólogo Luiz Eduardo Soares (co-autor do livro "Elite da Tropa"), que acompanhava as imagens finais da tentativa de linchamento do seqüestrador Sandro pela multidão e o trajeto da viatura onde ele foi assassinado (ou "asfixiado") por policiais. Ou seja, uma Polícia Militar assassina é um desejo inconfesso do povo. Ela é fruto da sociedade. Mas os criminosos também o são.
Ao longo de sua história, o cinema brasileiro tomou como personagem privilegiado o marginal, oprimido pela sociedade e que não encontra saídas além de ingressar na vida do crime. Nos anos de 1960 e 1970, em filmes como "Assalto ao Trem Pagador", "Mineirinho Vivo ou Morto" e "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia", entre outros, os personagens bandidos ganhavam alguma legitimidade como vítimas das injustiças sociais, num quadro em que, de alguma maneira, os filmes de cangaceiros também se encaixavam.
Nos últimos anos, com a sensação de um crescimento assustador da violência urbana, especialmente no Rio de Janeiro, o foco parece se deslocar para personagens que, ilesos ou não, buscam de diversas maneiras escapar da pobreza e do crime, como o Buscapé de "Cidade de Deus" ou o protagonista de "Querô".
Em relação a uma linhagem do filme policial brasileiro, "Tropa de Elite" é ao mesmo tempo uma ruptura e uma continuidade. Apesar de se diferenciar por tomar como protagonista um policial, o filme de José Padilha não foge à tradição dos personagens marginalizados, impotentes em um universo que não controlam e em crise pela incompatibilidade entre o ofício e a necessidade de segurança e paz na vida familiar.
Apesar de o Capitão Nascimento e o Bope serem a elite da tropa, eles representam também uma minoria, um grupo marginal dentro do universo muito mais amplo da Polícia Militar e do aparato estatal como um todo.
Mas todas essas contradições são frutos do "sistema", explica a narração do Capitão, desfiando um antielitismo rasteiro que é um dos principais responsáveis pela grande empatia do filme. Policial do Bope não tem carro importado nem casa com piscina. "Faca na caveira e nada na carteira", debocha um PM quando os "homens de preto" aparecem para salvar o dia.
Lógico, afinal de contas, rico não presta, sejam os oficiais e políticos corruptos ou os alienados filhinhos de papai. E os pobres? Quem mandou morar em favela cheia de bandido? Se o favelado é inocente, basta trancar a porta do barraco e se proteger de bala perdida, porque o Bope só tortura quem tem o rabo preso.
Um dado novo apresentado por "Tropa de Elite" é justamente a eficiência. É com um orgulho quase ufanista que louvamos a melhor tropa do mundo. Para matar bandidos em favela, com o brasileiro não há quem possa!
De "Nascido para Matar" a "Até o Limite da Honra", os artifícios do cinema de ação são traduzidos com perfeição para o cenário nacional. Mais do que um Rambo, Wagner Moura cria uma autêntica versão brasileira do policial John McLane de Bruce Willis, que, em meio a crises familiares e profissionais, destila carisma e violência.
Se os americanos sempre salvaram o mundo dos terroristas europeus ou árabes, pelo menos no Rio de Janeiro quem manda é o Capitão Nascimento, como mostraram dezenas de piadas que ainda circulam na internet.
No retrato traçado por "Tropa de Elite", o Bope representa a eficiência absoluta -o drama do Capitão Nascimento é justamente encontrar seu substituto "perfeito"- e também a reserva moral da polícia e, conseqüentemente, do Estado.
Com a autoridade concedida por justificativas econômicas (o pertencimento à classe média responsável e trabalhadora), morais (a honestidade a toda prova) e técnicas (a superioridade indiscutível em seu ofício), a elite da tropa tem todos os motivos para fazer o que acha melhor, inclusive transgredindo as leis de um sistema podre.
Os fins justificam os meios, sobretudo se quem o faz é considerado autorizado para tal. Como o personagem de Charles Bronson da série "Desejo de Matar", torna-se lícito reunir na mesma figura juiz, júri e executor.
Apesar do tiro disparado na nossa cara, o longa-metragem de José Padilha, no final das contas, é um alívio para as aflições da classe média honesta e sofredora.
Após dezenas de filmes insistirem em tirar seu sono, atribuindo-lhe culpa ou preocupação, ela poderá enfim dormir em paz. Se seus privilégios são defendidos ardorosamente por "Meu Nome É Johnny", sua segurança é plenamente garantida por "Tropa de Elite". Fiquemos tranqüilos: enquanto o Capitão Nascimento vai merecidamente aproveitar o "happy end" com a mulher e filhinho, o Capitão Matias vai seguir aniquilando os malfeitores.


RAFAEL DE LUNA FREIRE é professor de preservação, restauração e políticas audiovisuais no curso de cinema da Universidade Federal Fluminense e autor de "Navalha na Tela - Plínio Marcos e o Cinema Brasileiro" (Tela Brasilis).

A doença e sua cura

"Tropa de Elite" instala a dúvida, enquanto "Rambo" recorre a músculos

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Primeiro, veio a recepção da imprensa internacional, que tratou o filme quase unanimemente a pedradas. Depois, a consagração do júri no Festival de Berlim, com a escolha de "Tropa de Elite" para receber o Urso de Ouro. Entre os dois, repetiu-se o mesmo fenômeno midiático que cercou o lançamento do filme no Brasil e seu conseqüente ótimo resultado nas bilheterias, numa espécie de confirmação do velho ditado "falem mal, mas falem de mim".
Já as acusações recorrentes de "fascismo", que voltaram a circular nas críticas feitas ao filme, desta vez pela imprensa internacional, chamam a atenção por constituir a reação quase universal daqueles que repudiam o filme de José Padilha. Resta saber a que fascismo se referem.
O retorno iminente de outro herói, John Rambo, também considerado em seu tempo um ícone do fascismo, um portador do pior da América dos anos Reagan, ajuda a estabelecer algumas nuanças relativas ao uso indiscriminado dessa expressão, que faz as vezes de xingamento.

Fuzil apontado
Quando assisti ao filme de Padilha pela primeira vez, já havia lido e relido textos que atacavam o filme pelo suposto teor fascista de sua mensagem.
Mas, diante do plano final, com aquele fuzil apontado contra a cara de todos na platéia, saí da sessão a me perguntar se é o filme que é fascista ou se ele traz à tona, de modo astuto e insidioso, nosso fascismo cotidiano e inconfessável sob a forma de desejo de extermínio.
Pelo fato de essa reação comportar a ambigüidade, provocar esse ruído em sua recepção, fiquei convencido de que "Tropa de Elite" trazia algo de saudável. O que se confirmou em seguida, com a calorosa e importante discussão social provocada pelo filme.
Por outro lado, é preciso reiterar que o ótimo desempenho de bilheteria do longa de Padilha se deve em parte às platéias que cultuam o Capitão Nascimento como uma versão longe de Hollywood e perto do coração do velho e sempre eficaz Rambo.
Não à toa seu bordão pegou, dizem, no meio dos pitboys e outras espécies de aborígenes. E paira a dúvida, acima de tudo, se o filme teria tido tanto sucesso se houvesse algum tipo de punição às atitudes do Capitão Nascimento.
Já o retorno do soldado programado para matar, encarnado ainda uma vez pelo agora sessentão Sylvester Stallone, é um filme que não provoca nenhum tipo de ambigüidade.
Tudo recomeça com Sly do seu jeito Rambinho Paz e Amor, quieto no seu recanto tailandês enquanto militares birmaneses abastecidos pelo tráfico de drogas praticam genocídio na vizinhança.
Basta, porém, que um grupo de defensores de direitos humanos, obviamente americanos brancos e cristãos, sejam atacados para que Rambo se transforme ainda uma vez em eficaz máquina de extermínio.
À diferença do personagem de Wagner Moura, o de Stallone não admite opções. Seu funcionamento robótico é o mesmo das máquinas, nas quais, uma vez que seu mecanismo é posto para funcionar, não há nada que as controle.

Heróis brutamontes
E só nos resta torcer para que ele elimine o maior número possível de inimigos, retratados mais uma vez como uma sub-espécie de militares do Terceiro Mundo, todos sem nome, interpretados de modo a reiterar a animalidade dos tipos, ou seja, banir da tela qualquer resquício de humanidade ou de valores humanistas, tanto de um lado como de outro das metralhadoras.
Isso tudo faz lembrar "Cobra", outro filme protagonizado por Stallone nos anos 80, que provocou reações semelhantes e teve várias cenas cortadas pela censura brasileira -a distribuidora acabou retirando-o de cartaz às pressas.
Sob o slogan "o crime é uma doença; eu sou a cura", o tenente Mario Cobretti, vulgo Cobra, satisfazia os delírios sanguinários de platéias cujo desejo de diversão rima sem pudores com destruição.
O que não se vê em toda essa linhagem de heróis brutamontes é a ação corrosiva da dúvida. Nenhum deles sofre de pânico ou assume ter planos de abandonar aquele tipo de vida, como Nascimento.
Não se trata aqui, obviamente, de encontrar rastros de humanidade para poupar o personagem de Wagner Moura dos significados negativos que ele encarna. É inegável que há uma atitude de eliminação em sua relação de poder com aqueles que persegue.
Além disso, a narração do filme em "off" funciona como elemento fortíssimo de identificação. E Padilha certamente levou isso em conta como potencial isca de bilheteria, mesmo sob o risco de elevar um exterminador ao patamar de herói.
Mas há nele outra força inoculada, que John Rambo trocou pelo exclusivo uso dos músculos: a dúvida.

Do "love" à guerra

Inspirada em pop romântico, música-símbolo de "Tropa de Elite" dissemina-se em discos, celulares e estádios de futebol

ERNANE GUIMARÃES NETO
DA REDAÇÃO

A canção pop "Your Love" atingiu a 6ª posição na parada Billboard em 1986, ficando 22 semanas entre os "100 mais" da lista elaborada pela revista norte-americana homônima. Desde essa época a composição, do primeiro álbum do grupo britânico The Outfield, não pára de nos atravessar por ondas de rádio.
Mesmo que esses nomes não sejam lembrados por muitos leitores, a canção faz parte da paisagem sonora no Brasil. E, antropofagicamente apropriada, participa cada vez mais da cultura do país: sua melodia é a base do "Rap das Armas", criação de 1992 alçada a sucesso nacional no ano passado, com o filme "Tropa de Elite".
"Your Love", aquela do refrão "I just wanna use your love tonight/ I don't wanna lose your love tonight" [Só quero usar teu amor nesta noite/ Não quero perder teu amor nesta noite], começa com as mesmas notas que, nas versões em português, são cantadas com a onomatopéia bélica "parapapapapapapapapapa".
Enquanto o pop tipicamente oitentista falava de relações românticas de uma maneira descompromissada, o "Rap das Armas" oficial, cantado pela dupla MC Junior e MC Leonardo, denuncia a violência. Em sua invocação, a letra de Leonardo anuncia que vai "falar de um problema nacional", antes de listar mais de 20 nomes de armas -técnicos, como M-16, ou coloquiais, como "oitão".
Seria uma ironia? MC Leonardo diz à Folha que sua inspiração em "Your Love" foi puramente musical, e que desconhece a letra em inglês. Segundo o autor, a composição surgiu originalmente como uma descrição das belezas do Rio de Janeiro, mas só emplacou depois que ele acedeu à sugestão de incluir as armas na letra.

Glamourização
Simone Pereira de Sá, professora de comunicação na Universidade Federal Fluminense que pesquisa o funk na condição de "música eletrônica popular brasileira", ri da ironia involuntária: "É a polissemia, o deslize dos significantes, que faz parte da história da música "massiva", gravada. Você escreve a música com um sentido e não sabe o que vão fazer dela".
Na controvertida reinterpretação que circulou com os milhões de DVDs piratas comercializados antes do lançamento do filme, a denúncia é deixada de lado em favor de uma violenta e bem-humorada descrição do conflito entre facções armadas de duas favelas.
A apropriação da canção pelos colegas de baile e pela pirataria deu azo a críticas que põem a cultura funk no mesmo balaio de filmes que fazem a "estetização da violência", como "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite".
A teórica do funk apressa-se em defender seu campo de estudo: "Para circular, há "estetização", de seja o que for: a política, a violência, o amor. Isso não anula o potencial político, social, de discutir a violência", diz Simone Sá.

Antropofagia nos une
A versão mais violenta não prejudicou tanto Leonardo, pois tanto ele e o irmão Junior quanto Cidinho e Doca estão na trilha sonora de "Tropa de Elite", que já vendeu mais de 28 mil CDs. Segundo a gravadora EMI, já foram vendidos mais de 50 mil toques de celular com o "Rap das Armas". Leonardo esclarece que não ficaram rusgas entre os dois grupos.
O toque de celular pode ser ouvido em estádios como o Morumbi, em São Paulo, onde o deslocamento temático atingiu um nível mais extremo.
A canção melosa, transformada em funk por um jornaleiro que admirava as paisagens fluminenses, mas era atento à crise social, e foi apropriada como ode à guerra do tráfico, espalhou-se por outros Estados brasileiros como hino da guerra lúdica do futebol, entoado pelas torcidas organizadas. "Parapapapapapapapa clac bum, Torcida Independente derrubou mais um."

NA INTERNET - Leia a íntegra deste texto e ouça trechos de "Your Love" e "Rap das Armas" em www.folha.com.br/080521
José Augusto De Blasiis