TV Globo/Divulgação |
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Na TV do futuro, animais, mocinhos e vilões de novelas, jogadores de futebol e carros em alta velocidade saltam da tela e invadem a sala de estar da sua casa. Essa (falsa) realidade não tardará. A TV em 3D (três dimensões) deve estar entre nós antes da Copa de 2014.
No Brasil, a Globo (e, por enquanto, só ela) já faz incursões no mundo do 3D. A rede captou imagens tridimensionais do Carnaval carioca, para exibições fechadas. Em breve, repetirá a experiência com novelas.
Uma dessas projeções do Carnaval em 3D ocorreu, no final de abril, em uma feira de TV em Las Vegas, nos EUA. "A demonstração mais impressionante veio do Brasil, com gravações trazidas pela TV Globo. Foi espetacular", escreveu em seu blog a colunista Anne Thompson, da revista americana "Variety". Na feira, a NAB-2009, monitores de 3D foram a grande sensação.
Diretor de multimídia e de projetos especiais da Globo, o engenheiro José Dias calcula que em três anos já será possível fazer transmissões em 3D via cabo (TV paga) e pelo ar (TV aberta), usando o sistema de TV digital lançado em dezembro de 2007. O telespectador precisará ter um televisor que projete em 3D e de óculos especiais. Ambos já existem no mercado, inclusive brasileiro.
O grande "barato" da TV 3D é a sensação que ela provoca. Ela proporciona uma imagem que se aproxima da captada pelo olhar humano, mas não é real. "A tela do televisor 3D não é uma tela, é uma janela que projeta imagens para a frente e para trás. Isso muda a forma de contar a história", afirma Dias.
Nas imagens captadas pela Globo, uma moreia de um carro alegórico produziu o efeito de que saía da tela e, ondulando, se aproximava do espectador, enquanto o sambódromo permanecia fixo, ao fundo. A emissora também inseriu um merchandising em que uma lata de cerveja saía do fundo da tela e chegava ao alcance das mãos do telespectador. "Isso é tudo o que o anunciante quer. O 3D vai revolucionar o merchandising", aposta o diretor da Globo.
Pela sua capacidade de atrair o telespectador, a TV em 3D está sendo vista como a "salvação" da televisão, cada vez mais perdendo público, principalmente o jovem, para novas mídias. No Brasil, o 3D pode ser uma forma de alavancar a própria TV digital, que ainda não decolou, uma vez que a alta definição oferece imagem melhor, mas sem tanto impacto.
Impulso do cinema
Segundo Dias, da Globo, será possível transmitir um sinal de alta definição e um sinal de 3D usando um mesmo canal de TV digital. Do ponto de vista técnico, será uma mudança menos radical do que a da migração da TV analógica para a digital.
Foi a tecnologia digital que impulsionou a produção em 3D. A projeção tridimensional foi descoberta no século 18. Nos anos 50, foi usada pelo cinema justamente para competir com a emergente televisão.
Nesta década, graças ao digital, o cinema redescobriu o 3D. O número de lançamentos na nova tecnologia saltou de um filme ("O Galinho Chicken Little") em 2005 para 16 neste ano (projeção). Depois de "Monstros vs. Alienígenas", o novo "Era do Gelo" e "Avatar" (este, com atores de verdade, dirigidos por James Cameron, de "Titanic") são as grandes promessas de bilheteria em 3D.
No Brasil, o número de salas de exibição com a tecnologia cresce a cada final de semana. Eram 34 no começo de março. Chegaram a 51 no final de abril. Devem passar de cem no final do ano, estima o portal Filme B, que monitora o mercado cinematográfico brasileiro. "Para o cinema, o 3D é a tecnologia do presente", diz Paulo Sérgio Almeida, do Filme B.
Um novo grande salto deve ocorrer até o final deste ano, quando entidades americanas definirão um padrão de distribuição de 3D digital. Isso permitirá o lançamento de DVDs de filmes em 3D para tocadores de Blu-ray, o que estimulará o consumidor a comprar televisores e óculos 3D, abrindo caminho para a produção e transmissão de programas de TV na nova tecnologia.
Outra tendência é a transformação de filmes e programas originais em 2D para 3D. A Globo já estuda fazer isso.
Por fim, um esclarecimento: o 3D, como toda TV, deve ser visto com moderação, mas não faz mal à saúde. "O 3D é uma ilusão, uma sensação, simulação. Não existe nenhum estudo comprovando que causa estresse, dano ou irritação ocular", diz Paulo Augusto de Arruda Mello, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.
Televisores já existem, mas falta conteúdo
COLUNISTA DA FOLHA
Televisores que projetam 3D já são vendidos no mundo todo, inclusive no Brasil. Nos Estados Unidos, deverão ser vendidas 2 milhões de unidades desses aparelhos até o final do ano.No Brasil, nenhum fabricante admite que vende televisor 3D. Alguns dizem que oferecem apenas monitores, e somente para o mercado corporativo.
Mas a Samsung tem dois aparelhos (o PL50A450 e o PL42A450) que estão prontos para a nova tecnologia. São os "3D ready". Na semana passada, o PL50A450, de 50 polegadas e tela de plasma, mas sem alta definição, era vendido por R$ 2.799 na internet.
Todos os "3D ready" também servem para assistir à TV convencional (2D).
Para tirar proveito do recurso 3D desses aparelhos, o telespectador tem de comprar óculos especiais e conectá-los a microcomputadores com placa de vídeo da Nvidia -a empresa deve lançar em breve um kit com óculos para 3D. O grande problema é conseguir conteúdo em 3D, ainda muito restrito. "O pessoal do game está usando essas TVs", diz José Dias, engenheiro da Globo.
Os fabricantes não anunciam que vendem televisores para 3D para evitar problemas com consumidores, por causa da falta de conteúdo.
No exterior, televisores mais sofisticados custam US$ 6 mil (R$ 12 mil). Um modelo da Hyundai tem um conversor que transforma TV 2D em 3D.