terça-feira, maio 19, 2009

As listas dos filmes mais importantes da história

Conforme me foi pedido, alguns dos filmes mais importantes na história do Cinema, numa excelente seleção por esse blog de cinema, muito recomendado:

http://grandes-filmes.blogspot.com/

Aqui um site Norte Americano que faz uma lista por ano, e depois separada em categorias. Muito útil.

http://www.filmsite.org/filmh.html

Mais uma lista do mesmo site:

http://www.filmsite.org/momentsindx.html

A lista do Village Voice (periódico de Nova Iorque) de melhores 100 filmes de todos os tempos, bastante útil e interessante:

  1. Citizen Kane (1941, Orson Welles)
  2. The Rules of the Game (1939, Jean Renoir)
  3. Vertigo (1958, Alfred Hitchcock)
  4. The Searchers (1956, John Ford)
  5. The Man With a Movie Camera (1929, Dziga Vertov)
  6. Sunrise (1927, F.W. Murnau)
  7. L'Atalante (1934, Jean Vigo)
  8. The Passion of Joan of Arc (1928, Carl Theodor Dreyer)
  9. Au Hasard Balthazar (1966, Robert Bresson)
  10. Rashomon (1950, Akira Kurosawa)
  11. 2001: A Space Odyssey (1968, Stanley Kubrick)
  12. The Godfather (1972, Francis Ford Coppola)
  13. Pather Panchali (1955, Satyajit Ray)
  14. The Birth of a Nation (1915, D.W. Griffith)
  15. The Wizard of Oz (1939, Victor Fleming)
  16. It's a Wonderful Life (1946, Frank Capra)
  17. Ordet (1955, Carl Theodor Dreyer)
  18. Intolerance (1916, D.W. Griffith)
  19. Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975, Chantal Akerman)
  20. Psycho (1960, Alfred Hitchcock)
  21. Chinatown (1974, Roman Polanski)
  22. M (1931, Fritz Lang)
  23. The Seven Samurai (1954, Akira Kurosawa)
  24. The Earrings of Madame de... (1953, Max Ophuls)
  25. The Magnificent Ambersons (1942, Orson Welles)
  26. A Man Escaped (1956, Robert Bresson)
  27. Broken Blossoms (1919, D.W. Griffith)
  28. Greed (1924, Erich von Stroheim)
  29. Ugetsu (1953, Kenji Mizoguchi)
  30. The Third Man (1949, Carol Reed)
  31. The Godfather Part II (1974, Francis Ford Coppola)
  32. The General (1927, Buster Keaton)
  33. The Seventh Seal (1956, Ingmar Bergman)
  34. Taxi Driver (1976, Martin Scorsese)
  35. The Night of the Hunter (1955, Charles Laughton)
  36. Tokyo Story (1953, Yasujiro Ozu)
  37. The Bicycle Thief (1949, Vittorio DeSica)
  38. City Lights (1931, Charles Chaplin)
  39. King Kong (1933, Merian C. Cooper & Ernest B. Schoedsack)
  40. Metropolis (1927, Fritz Lang)
  41. My Life to Live (Vivre sa vie) (1962, Jean-Luc Godard)
  42. Sherlock Jr. (1924, Buster Keaton)
  43. Aguirre: the Wrath of God (1972, Werner Herzog)
  44. Duck Soup (1933, Leo McCarey)
  45. Sunset Boulevard (1950, Billy Wilder)
  46. Barry Lyndon (1975, Stanley Kubrick)
  47. The 400 Blows (1959, Francois Truffaut)
  48. Steamboat Bill, Jr. (1928, Buster Keaton)
  49. Contempt (1963, Jean-Luc Godard)
  50. The Gold Rush (1925, Charles Chaplin)
  51. North by Northwest (1959, Alfred Hitchcock)
  52. Hold Me While I'm Naked (1966, George Kuchar)
  53. The Rise of Louis XIV (1966, Roberto Rossellini)
  54. The Apu Trilogy (1955-59, Satyajit Ray)
  55. Touch of Evil (1958, Orson Welles)
  56. A Woman Under the Influence (1974, John Cassavetes)
  57. The Lady Eve (1941, Preston Sturges)
  58. The Conformist (1970, Bernardo Bertolucci)
  59. The Palm Beach Story (1942, Preston Sturges)
  60. The Man Who Shot Liberty Valance (1962, John Ford)
  61. Pickpocket (1959, Robert Bresson)
  62. An Actor's Revenge (1963, Kon Ichikawa)
  63. Berlin Alexanderplatz (1980, Rainer Werner Fassbinder)
  64. Close-Up (1990, Abbas Kiarostami)
  65. The Gospel According to St. Matthew (1965, Pier Paolo Pasolini)
  66. La Jetee (1961, Chris Marker)
  67. Modern Times (1936, Charles Chaplin)
  68. October (1927, Sergei Eisenstein)
  69. Los Olvidados (1950, Luis Bunuel)
  70. Paisan (1946, Roberto Rossellini)
  71. Performance (1970, Nicolas Roeg & Donald Cammell)
  72. Shoah (1985, Claude Lanzmann)
  73. Singin' in the Rain (1952, Stanley Donen & Gene Kelly)
  74. Two or Three Things I Know About Her (1966, Jean-Luc Godard)
  75. Umberto D (1952, Vittorio De Sica)
  76. Les Vampires (1915-16, Louis Feuillade)
  77. All About Eve (1950, Joseph H. Lewis)
  78. All That Heaven Allows (1956, Douglas Sirk)
  79. Battleship Potemkin (1925, Sergei Eisenstein)
  80. Notorious (1946, Alfred Hitchcock)
  81. Pierrot le Fou (1965, Jean-Luc Godard)
  82. Fox and His Friends (1975, Rainer Werner Fassbinder)
  83. The Texas Chainsaw Massacre (1974, Tobe Hooper)
  84. A Trip to the Moon (1902, Georges Melies)
  85. Wavelength (1967, Michael Snow)
  86. Ashes and Diamonds (1958, Andrzej Wajda)
  87. Beyond the Valley of the Dolls (1970, Russ Meyer)
  88. The Golden Coach (1952, Jean Renoir)
  89. Salo (1975, Pier Paolo Pasolini)
  90. Celine and Julie Go Boating (1974, Jacques Rivette)
  91. Masculine-Feminine (1966, Jean-Luc Godard)
  92. Nosferatu (1922, F.W. Murnau)
  93. Star Wars (1977, George Lucas)
  94. Blade Runner (1982, Ridley Scott)
  95. Bride of Frankenstein (1935, James Whale)
  96. Jules and Jim (1961, Francois Truffaut)
  97. Landscape in the Mist (1988, Theo Angelopoulos)
  98. Mean Streets (1973, Martin Scorsese)
  99. Shadow of a Doubt (1943, Alfred Hitchcock)
  100. Suspiria (1977, Dario Argento)
Lista de mil filmes mais importantes do mundo de acordo com o New York Times:

http://www.nytimes.com/ref/movies/1000best.html

A revista inglesa "Sight and Sound" promove votações entre críticos de cinema, cineastas e jornalistas a cada dez anos para eleger of filmes mais importantes já feitos. Segundo o crítico Roger Ebert, um escritor que gosto muito, s S&S é "De longe a mais respeitada das inúmeras pesquisas de grandes filmes, a única que a maioria das pessoas sérias de cinema levam a sério"

Acho um pouco exagerado dele, mas as listas estão abaixo. A primeira, de 52, é liderada por "Ladrões de Bicicleta". As subsequentes, até hoje, são lideradas por "Cidadão Kane".

Estas listas devem lhes dar algmum embasamente para já começar a assistir filmes essenciais.

http://en.wikipedia.org/wiki/Sight_%26_Sound

Os 100 mais importantes filmes de lingua não-inglesa, de acordo com o filmsite.org:

http://www.filmsite.org/foreign100.html



Isabelle Huppert diz que cinema deve ser humanista

http://www.diplomatie.gouv.fr/en/IMG/jpg/59c8.jpg

Isabelle Huppert diz que cinema deve ser humanista


Luiz Carlos Merten
Agência Estado

Foi a coletiva do júri mais chocha dos últimos anos aqui em Cannes, principalmente se considerarmos a extensão dos talentos reunidos para cercar a presidência da 62ª edição do maior evento de cinema do mundo. Madame la Présidente é Mademoiselle Isabelle Huppert - "uma atriz francesa pode ter 100 anos, mas será sempre senhorita", disse, anos atrás, ninguém menos do que Jeanne Moreau - e com ela participam dessa jornada atrizes como Asia Argento, Robin Wright Penn e Shou Qi, além de diretores como James Gray e Nuri Bilge Ceylan, mais o escritor e roteirista Hanif Kureishi.

Cinco mulheres, incluindo a presidente, quatro homens. Mas Isabelle não tem paciência para feminismos de pacotilha. Para ela, o número não conta nada, da mesma forma como não existe um cinema ‘feminino’ em oposição a outro ‘masculino’. O cinema não tem sexo, ela afirma. O cinema que defende também não é político, embora ela entenda a declaração do presidente do júri no ano passado, Sean Penn, quando colocou a edição de 2008 sob o signo da política. "Ele é norte-americano", desculpa Isabelle. Para ela, o cinema deve ser humanista, e uma escolha estética. "Não estamos aqui para julgar, mas para amar", diz a senhora presidente.

Sua personalidade é forte e a imprensa francesa conjectura se Isabelle vai ser autoritária ou manipuladora. Claude Chabrol, com quem ela trabalhou várias vezes, aposta que será ‘persuasiva’. O júri teria coragem de ir contra a presidente?, perguntou Henri Béhar, que animava o debate. "Eu sou capaz de ir contra mim mesma", garantiu Isabelle. Hanif Kureishi talvez tenha resumido o dilema do júri, de qualquer júri, da forma mais sucinta - "A ideia de um prêmio só é interessante para quem ganha."

A coletiva parece um tanto burocrática. Mas a presença de Isabelle Huppert garante, antecipadamente, o glamour do tapete vermelho. Karl Lagerfeld, John Galliano e Marc Jacobs criaram modelos exclusivos para ela usar. Sua preferência é pelo cinema de autor, mas se engana quem acha que ela vai usar sua influência para premiar um de seus favoritos, o austríaco Michael Haneke, que participa da competição. O assunto, de qualquer maneira, foi evitado na coletiva.

Como curiosidade, a revista "Madame" pediu a Isabelle que fizesse uma lista de grandes filmes - "Notorious", "O Intendente" "Sansho", "O Eclipse", "A Princesa e o Plebeu", "A Marca da Maldade" e "Amores Brutos" foram seus favoritos. Mas ela acrescentou dois diretores à lista - Charles Chaplin, por todos os seus filmes, e Stanley Kubrick, por todos "e mais um pouco".

http://cafebeatnik.files.wordpress.com/2009/04/cannes.jpg

Cannes em 3-D e sem preconceito

Luiz Carlos Merten
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / Caderno 2

Animação Up é programa que celebra a diversidade que dá tônica à 62.ª edição

Pode ser mera coincidência, mas exatamente há 62 anos, em 1947, pela primeira vez uma animação da Disney - Dumbo - foi exibida no Festival de Cannes. Ontem, outra animação, da Disney Pixar, inaugurou oficialmente o 62º festival. Up, de Pete Docter e Bob Preterson, que no Brasil vai ganhar o acréscimo de Altas Aventuras ao título original, foi um programa sob medida para celebrar a diversidade que dará a tônica desta edição. Cannes de todos os gêneros - melodrama, horror, fantasia. Cannes de todos os formatos e tecnologias.

Antes da sessão de abertura para a imprensa, o delegado artístico Thierry Frémaux, que organiza a seleção, subiu ao palco do Théâtre Claude Debussy para desejar a todos um bom festival. E ele pediu a jornalistas de todo o mundo que posassem para uma foto ?de família?, colocando os óculos especiais - além de animação, Up é em 3-D. Cannes entrou alegremente na terceira dimensão.

Muitos analistas veem no recurso o futuro do cinema porque a 3-D resiste à pirataria. Mas Up quase não se assemelha a um filme em terceira dimensão. Na maioria das vezes - horror ou remakes -, esses filmes abusam dos efeitos. Eles existem, claro, mas são perfeitamente ajustados à história e não meros pretextos para provocar exclamações do público. E a Pixar ainda consegue surpreender. Duvidam? Os 15 ou 20 minutos iniciais de Up são admiráveis, beiram a obra-prima. O filme começa como um cinejornal, mostrando o efeito que tem, sobre um garoto, a existência de um aventureiro como esse que vai aos confins da América do Sul, representando ?o espírito da aventura? (nome de seu dirigível).

O aventureiro desaparece em busca de uma ave rara - acusado que foi de forjar um esqueleto falso. O menino encontra sua alma gêmea, cresce, casa-se. Ele e ela vivem uma vida inteira sonhando com a ida para esse paraíso mítico. Envelhecem, ela morre - o começo de Up não apenas confronta o espectador com a dor da perda, tema de animações clássicas, como Bambi e Dumbo, mas também passa uma sensação rara de tristeza que talvez faça desse desenho um programa para adultos. Só então a aventura - o velho e um garoto - começa. Essa segunda parte tem seu encanto - o vilão é surpreendente -, mas de alguma forma a grande inovação ficou no intimismo minimalista da parte inicial.

Anos atrás, outra animação, Shrek, da DreamWorks, já abriu o festival. O retorno à animação é para mostrar que Cannes, abrindo sua janela para o cinema do mundo, não tem preconceitos. O filme passa fora de concurso. Apenas dois filmes de produção norte-americana, Inglorious Bastards, de Quentin Tarantino, e Taking Woodstock, de Ang Lee, integram a competição, contra cinco no ano passado. Em compensação, muitos filmes asiáticos - chineses, coreanos, um japonês.
A crise não atingiu a organização, garante Thierry Frémaux. Os parceiros econômicos são sólidos, o número de credenciamentos até aumentou, mas o volume dos filmes comercializados no mercado é coisa para conferir somente daqui a 12 dias. Ele justifica sua preferência pelos asiáticos de maneira transparente - "A Ásia traz um frescor e uma inovação que renovam o fascínio dos cinéfilos." O primeiro filme da competição, ontem à noite, foi asiático - Noites de Embriaguês Primaveril (Nuits d?Ivresse Printanière), do chinês Lou Ye. A corrida pela Palma de Ouro (re)começou.

Na Croisette

Eva Longoria, Gong Li e Michelle Yeoh são as garotas L?Oréal e a marca é a grande patrocinadora do festival. Nenhuma delas era esperada para a montée des marches, a subida da escadaria do palais, na noite inaugural. O brilho da marca foi representado por Elizabeth Banks na abertura.

Uma recente pesquisa apontou Sophie Marceau como a estrela favorita dos franceses. Ela terá direito a todas as honras deste 62.º festival, mas a expectativa maior é por Angelina Jolie, que deve acompanhar o marido, Brad Pitt, na sessão de gala de Inglorious Bastards, de Quentin Tarantino, e Monica Bellucci, cujo marido, Vincent Cassel, estrela o representante brasileiro na mostra Um Certain Regard, À Deriva, de Heitor Dhalia. Mas há quem jure que a multidão vai enlouquecer quando Eric Cantona, o Sr. Futebol, pisar o tapete vermelho, com o filme Looking for Eric, de Ken Loach.

Houve uma grita generalizada porque o curta Partly Cloudy, que deve acompanhar as exibições de Up - Altas Aventuras nas telas de todo o mundo, não passou como complemento nem na sessão de imprensa nem na de gala. No tapete vermelho, o brilho ficou por conta de Charles Aznavour, que dubla o velho protagonista. O festival, por sinal, rende homenagem a dois astros da música - além de Aznavour, Johnny Hallyday vem mostrar Veangeance, o novo thriller de Johnnie To. Para isso, ele vai interromper o tour de seu show de despedida, um espetáculo de três horas, que está levando por toda a França.

Só como curiosidade: várias animações já foram exibidas no festival, mas apenas duas foram premiadas. La Planète Sauvage, de René Laloux, ganhou o prêmio especial do júri em 1973. Em 2007, outro prêmio do júri foi para Marjane Satrapi, por Persépolis.

Gaspar Noé volta à competição depois de provocar escândalo com a cena do estupro de Monica Bellucci em Irreversível, anos atrás. O diretor franco-argentino assina Soudain le Vide. Mal desembarcou em Cannes e já está fazendo barulho. O novo filme, Destricted, é pornográfico, uma história bem prazerosa de sexo explícito, promete o cineasta.

Além do júri que vai outorgar a Palma de Ouro, presidido por Isabelle Huppert, outros júris estarão ativos. O diretor italiano Paolo Sorrentino preside o júri da mostra Un Certain Regard. O ator Roschdy Zem é o presidente do júri que vai entregar a Palma de Ouro dos diretores estreantes, a Caméra d?Or. E Radu Mihaileanou vai atribuir o prêmio do Office Catholique International du Cinéma (Ocic).

http://ecx.images-amazon.com/images/I/51Ipvg3RwsL._SL500_AA240_.jpg


Balzac, uma vida titânica em 4 horas

Série europeia tem Gérard Depardieu no papel do grande escritor francês

Luiz Zanin Oricchio

Poucos escritores foram tão citados e amados. Marx o tinha em grande conta. Engels entendia que, apesar de politicamente conservador, fora quem melhor retratara a sociedade burguesa do seu tempo. Escrevia sem parar, era mulherengo, comia e bebia muito. Morreu com 51 anos, mas viveu muito. Honoré de Balzac (1799-1850), um gigante da literatura, titã que desejava abarcar toda a sociedade da época em sua desmedida Comédia Humana. Tal figura pantagruélica só poderia mesmo ser interpretada por um ator do porte físico e psicológico de Gérard Depardieu. É como o vemos nessa ótima minissérie de Josée Dayan, lançada agora pela Versátil (caixa com 2 CDs, R$ 74,90).

Mesmo em 240 minutos, que é o que somam os episódios da minissérie, fica difícil acomodar os fatos de uma vida tão complexa quanto a de Balzac. Josée Dayan (autora de uma cinebiografia muito boa de Margueritte Duras) prefere se ater a certos aspectos. Por exemplo, ocupa lugar central o relacionamento entre Balzac e sua mãe, vivida por Jeanne Moreau. Sem insistir no travo psicanalítico, mostra-se como essa relação tumultuada pode ter influenciado na carreira do escritor. Anne Charlotte (Jeanne Moreau) é pintada como uma mãe fria e indiferente. Mas é um retrato com nuances. De toda forma, o glutão Honoré aparecerá sempre como alguém que tem fome - de livros, de personagens, de comida, de vinho e afeto. Um bezerrão grande e imaturo, que inventou negócios para ganhar dinheiro e sempre o perdeu, confortando-se com o primeiro rabo de saia que aparecesse.

Além de enfrentar carências pessoais e materiais, Balzac era perseguido pelas dívidas. A figura melíflua de um oficial de justiça é onipresente. Há seus amigos, também, e, entre eles, a nobre figura de Victor Hugo, que reconheceu sua grandeza em vida e o exaltou na morte. Também os desafetos, aqui resumidos em Eugéne Sue, o invejoso escritor de folhetins que considerava Balzac um autor fracassado. Inveja. Mas o próprio Balzac escreveu folhetins, a telenovela da época, e morreu de raiva quando se viu substituído por um craque do gênero, Alexandre Dumas. Tudo isso é contado no filme. Inclusive a história da matrona da alta sociedade que o sustentou, Madame de Berney (Virna Lisi), e a grande paixão por Eva Hanska (Fanny Ardant), uma condessa polonesa, casada com um russo.

Em meio a tantas tribulações, sobrou pouco tempo para a minissérie dedicar-se à obra. É uma opção, digamos, válida - ficar nos acontecimentos. Mesmo porque apenas roçar a obra exigiria trabalho de síntese gigantesco. De fato, como abarcar semelhante trabalho, mesmo na extensão razoável dessa minissérie? Só da Comédia Humana são 90 romances, classificados em seções como Estudos de Costumes, Estudos Filosóficos e Estudos Analíticos. Um mundo que, no entanto, ficou incompleto, pois ele havia previsto mais uns 60 livros que não teve tempo de escrever.

Esse vasto afresco da sociedade francesa foi publicado algumas vezes no Brasil. Entre 1945 e 1953, a Globo lançou a Comédia em 17 volumes, série reimpressa anos mais tarde, entre 1989-1993. Ambas com supervisão de Paulo Rónai. Recentemente, a Editora Estação Liberdade tem lançado Balzac, livro a livro, em edições cuidadas, com novas traduções e prefácios. Já saíram A Mulher de 30 Anos, Ilusões Perdidas, Eugènie Grandet e Tratados da Vida Moderna.

Balzac é autor sempre muito lido, embora a obra, pela extensão, seja considerada de qualidade desigual. Ele já enfrentava esse tipo de julgamento em seu tempo. O autor de Madame Bovary, o perfeccionista Gustave Flaubert (1821-1880), com língua ferina, disse que "os livros de Balzac seriam ótimos...caso ele soubesse escrever". Rivalidades. Mas havia talvez um fundo de verdade: como trabalhava demais, movido pela necessidade premente de dinheiro, Balzac não cuidava tanto da revisão dos textos. Mas, enfim, Dostoievski foi acusado do mesmo pecado. Consta que teria escrito O Jogador em menos de uma semana - justamente para saldar uma dívida de jogo.

Em todo caso, é uma profusão que impressiona: cerca de 2 mil personagens povoam suas obras. Fascinantes como Vautrin, Rastignac, Goriot, Eugénie Grandet. São seres vivos, complexos, cheios de contradições. Adultos, perplexos, trágicos. Aliás, em sua História da Literatura Ocidental, Otto Maria Carpeaux diz que Balzac foi um divisor de águas: "Todos os romancistas antes de Balzac parecem-se mais ou menos como adolescentes de 18 anos que veem no amor o conteúdo de uma vida inteira. Balzac é o adulto."

Desse grande retratista da burguesia, adulto e realista, Carpeaux destaca algumas de suas obras fundamentais: A Prima Bette seria a mais completa; A Busca do Absoluto, a melhor realizada; seus estudos mais profundos seriam Pai Goriot e Eugénie Grandet. Mas sua obra-prima é Ilusões Perdidas, com a história de Lucien Rubempré, o literato corrompido pela boêmia e pelo jornalismo. Um personagem tão intenso e inesquecível que dele disse Oscar Wilde: "Nunca me recuperei completamente de sua morte."


PERSONAGENS FASCINARAM OS CINEASTAS

NA TELA:
Honoré de Balzac é também um dos autores mais adaptados para o cinema: contam-se cerca de 150 versões audiovisuais a partir de seus textos, a primeira delas La Grande Bretèche, realizada ainda na fase do cinema mudo, por André Calmettes. Vários livros como O Coronel Chabert, Pai Goriot e Eugènie Grandet tiveram várias adaptações para a tela. Dos grandes diretores contemporâneos, Jacques Rivette é talvez o mais apaixonado por Balzac. Em 1991, Rivette adaptou um relato curto, A Obra-Prima Ignorada, como La Belle Noiseuse (A Bela Intrigante), um filme de quatro horas de duração. Em 2006, voltou ao universo balzaquiano com Ne Touchez pas la Hache, baseado em A Duquesa de Langeais e ainda inédito comercialmente no Brasil, tendo sido exibido na Mostra de São Paulo. Não existem DVDs disponíveis desses filmes. A boa notícia é que, talvez pela primeira vez, Balzac vai ser adaptado por um diretor brasileiro. O cineasta Geraldo Sarno prepara um filme que terá uma parte documental sobre Balzac e incluirá a adaptação do livro A Pele de Onagro.

segunda-feira, maio 18, 2009

L.C. Merten comenta O Anticristo de Trier

por Luiz Carlos Merten,

CANNES - Naoh dou noticias desde ontem ah noite, quando anunciei que estava indo ver o novo Lars Von Trier. Imagino que muitos de voces estejam querendo saber o que achei do filme. Se Lars queria provocar polemica ou fazer barulho na Croisette, conseguiu. Estou me furando - comeco exatamente assim minha materia de amanhah no `Caderno 2`. Vamos mudar, para naoh ficar repetindo. Sorry estar escrevendo como no orkut, mas se nem o tecnico da sala de imprensa conseguiu trocar meu teclado, eh pegar ou largar. Ou escrevo o que estou logo querendo dizer desse jeito ou fica para depois. Naoh aguento esperar. Lars Von Trier tem essa obsessaoh por chocar, provocar, dah vontade de ir logo esculhambando com ele. A cena deve estar no You Tube.

`AntiChrist` foi vaiado nas duas sessoes ontem ah noite. Registro o fato, mas ateh que naoh lhe dou muita importancia. Grandes filmes que hoje fazem parte da historia do cinema =- `A Aventura`, de Michelangelo Antonioni - foram vaiados aqui mesmo em Cannes. Seja como for, havia a expectativa de uma coletiva tensa. Foi punk. Um jornalista afro-ingles comecou a baixaria. Abrindo a coletiva ele foi logo cobrando explicacoes, perguntando ao diretor por que fez o filme e pedindo que o traduzisse para o publico, sem conversa fiada, jah que ninguem havia entendido o que ele queria dizer (naoh eh verdade). Lars disse que nao era obrigado a explicar coisa nenhuma. O cara insistiu. Perguntou quem ele achava que era - o melhor diretor do mundo? Lars, tremendo, entrou no clima e disse que, sim, eh o melhor diretor do mundo. Eh o tipo de declaracaoh presuncosa, que tende a ser mal recebida.


Mas no dossieh de imprensa ele naoh eh taoh arrogante assim. Diz que escreveu `Anti-Christ` ao cabo de uma crise de depressaoh, quando se sentia impotente para criar. E, no material de imprensa, admite que fez o filme abaixo de sua capacidade intelectual. `Anti-Christ` comeca com um casal trepando (desculpem a linguagem). Detalhe de penetracaoh e tudo. Jah que eh provocacaoh contra plateias burguesas, dah vontade de perguntar se as partes envolvidas na cena saoh mesmo as de Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg. Ele tem cara de quem toparia tudo pela arte. Ela, nem tanto, mas Charlotte confessou que se entregou nas maos do diretor, numa experiencia `masoquista` - segundo ela - que foi intensa mas naoh taoh dolorosa. A pergunta deve-se ao fato de que, com todo o rigor do Dogma, quando filmou uma cena de sexo em `Os Idiotas`, Lars substituiu os envolvidos por atores de filmes pornoh, o que prova que o tal Dogma tem espaco para o artificio, sim. Enfim, enquanto o casal faz sexo, seu filho morre, desencadeando um processo de culpa.

Eh o prologo de `Anti-Christ`, que tem tres capitulos, intitulados `Dor`, `Luto` e `Desespero, mais um epilogo, durante os quais acompanhamos a crise do casamento apos a mortte do filho e a descida de marido e mulher ao inferno, que Lars Von Trier situa na natureza, na medida em que boa parte do filme se passa numa cabana na floresta. Rapina de animais, arvores que se destroem - e e se o Diabo, naoh Deus, tiver criado o homem a sua semelhanca? Eh a tese de `Anti-Christ`. Menos ateh do que naoh gostar, naoh me impressionei com o filme. Acho aquilo tudo meio infantil e a psicanalizacaoh, entaoh, me pareceu de quem leu Freud na orelha de algum manual de psicanalise para principiantes. Sem entrar em detalhes, numa cena Charlotte Gainsbourg pega uma tesoura e corta o clitoris. Hah 37 anos, aqui mesmo em Cannes, Bergman mostrou uma cena dessas a serio, e muito mais forte, em `Gritos e Sussurros` - com Ingrid Thulin, lembram-se? Acho que Lars Von Trier ficou muito `self conscious` da sua importancia. `Dancando no Escuro` era mais filme de horror para mim - embora esteja repetindo aqui o que me disse pela manhah Kleber Mendonca. Meu Lars Von Trier preferido continua sendo `Ondas do Destino`, quando ele ainda naoh estava preocupado em reinventar o cinema ah luz das novas tecnologias.

Simonal - O Documentário




Numa época de talentos eternos e revolucionários, Wilson Simonal brilhou como ninguém e inovou como poucos. Juntando qualidade, carisma, simpatia, suingue, charme, sensualidade e muito talento, ele se tornou a sensação do Brasil e ainda conquistou o público internacional. De repente tudo acabou. Boatos, acusações, mistérios, patrulhas e perseguições. O que aconteceu com Simonal?

“Simonal- Ninguém sabe o duro que eu dei”
Traça a trajetória impressionante do ex-cabo de exército, que reinou soberano e acabou condenado ao ostracismo por um delito que jurava não ter cometido.
Através de depoimentos de amigos, inimigos e principalmente de imagens das exuberantes performances do grande artista, o filme mostra também as respostas que nunca pareceram.


Documentário Dirigido por:

Claudio Manoel
Micael Langer
Calvito Leal

Ficha técnica:

Duração: 86 min
Ano: 2008
País de origem: Brasil
Site Oficial: http://www.simonal.com/
IMDB: -

Programação 1° semana (dia 15 ao dia 21 de maio).,


Link da foto: http://www.flickr.com/photos/wilsonsimonal/3531022053/

Mais informações nos sites:
http://www.simonal.com/
http://ninguemsabeoduroquedei.blogspot.com/

Por: Roberto Dante

Diretor de "Os Outros" volta com épico passado no Egito antigo

Diretor Alejandro Amenabar e atriz Rachel Weisz
THIAGO STIVALETTI
Colaboração para o UOL, de Cannes

Hoje, foi dia de Alejandro Amenábar apresentar seu novo filme em Cannes. Amenábar ficou conhecido pelo suspense "Os Outros", com Nicole Kidman, e depois pelo drama "Mar Adentro", com Javier Bardem, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro. O filme ainda não tem distribuição garantida no Brasil.

Em "Agora" (Ágora), ele constrói um épico passado no Egito do século 4, quando o território vivia sob dominação romana. Hipátia (Rachel Weisz, de "O Jardineiro Fiel") é uma mulher à frente se seu tempo, astrônoma, filósofa e matemática que trabalha na Biblioteca de Alexandria. Cabe a ela lutar para preservar o conhecimento adquirido pela civilização egípcia. Não falta o tradicional triângulo amoroso entre ela, o discípulo Orestes (Oscar Isaac) e o escravo Davus (Max Minghella, filho do cineasta Anthony Minghella).
"Apesar de muito diferentes entre si, todos os meus filmes tem um tema em comum: construir uma perspectiva humana sobre todas as coisas", definiu Amenábar. "Em 'Agora', quis mostrar o conflito entre religião e ciência, como em todos os filmes sobre Galileu, mas com uma personagem ainda não explorada no cinema". O diretor comentou sobre as questões religiosas do filme, que mostra a imposição cristã no Egito. "Muitos podem achar que é um filme anticatólico, mas não é. Denuncio o fundamentalismo, e não o cristianismo".

Rachel Weisz, que ganhou o Oscar de atriz coadjuvante por "O Jardineiro Fiel", de Fernando Meirelles, e é casada com o diretor Darren Aronofksy (de "O Lutador"), confessou que nunca tinha ouvido falar em Hipátia antes do filme, e teve de estudar muito para o papel. "Me inspirei nas mulheres que amam o trabalho acima de tudo na vida - Hipátia era assim já naquele tempo. Sobre a civilização egípcia, comentou: "Era uma sociedade muito desenvolvida, na cultura, na astronomia, na ciência, na filosofia. Mas curiosamente possuía uma grande lacuna: a escravidão. Apesar dos avanços, ainda havia os cidadãos de primeira e os de segunda categoria naquela época".

Terror bíblico de Lars Von Trier recebe gargalhadas, aplausos e vaias em Cannes

17/05/2009 - 17h31

THIAGO STIVALETTI
Colaboração para o UOL, de Cannes
Diretor de filmes tão densos quanto polêmicos - "Dançando no Escuro", "Dogville" -, o dinamarquês Lars Von Trier conseguiu mais uma vez acender a fogueira da polêmica em Cannes.

Seu novo filme, o terror "Anticristo", recebeu risos e até gargalhadas durante a sessão de imprensa. Ao final, a plateia se dividiu entre vaias e aplausos - a maioria vaiava.

"Anticristo" é o tipo de filme que os críticos vão amar odiar, e outros vão amar sem entender muito por quê. Será avaliado como péssimo por uns e uma obra-prima por outros. Ao final da sessão, quase nenhum jornalista aceitava dar entrevista para os canais de TV e internet que cobrem o festival, porque ninguém conseguia formar uma opinião.

Von Trier realizou o filme após uma grave depressão que viveu há cerca de dois anos, e que o fez interromper a escritura do roteiro. No material de divulgação, ele afirma que boa parte das imagens de "Anticristo" veio dos seus sonhos, que a trama tem apenas o mínimo necessário para mostrar essas imagens, que não pede desculpas pelo filme, e que o considera o mais importante de sua carreira.

O máximo que se pode dizer sem estragar a surpresa: devastados com a perda do filho, um casal (Willem Defoe e Charlotte Gainsbourg) se refugia em uma casa isolada no meio de uma floresta. Ela sofre e chora muito com a perda, ele cuida dela como se fosse um terapeuta. Von Trier reveste todo o seu filme de tons bíblicos, como se Adão e Eva voltassem a uma espécie de inferno final, ou inferno original - a floresta, não por acaso, se chama Éden. Desde o início, o conceito do sexo é ligado ao da morte, em algumas imagens poderosas e outras apenas chocantes.

O filme vai dividir opiniões, mas uma coisa é certa: o prólogo em preto-e-branco, que conta em poucos planos a história trágica do casal, tem as mais belas imagens já feitas por Von Trier, ao som de uma sinfonia de Handel. A parte da floresta, dividida em capítulos, não chega a ser assustadora, mas contém cenas de impacto envolvendo violência com genitália, muito sangue e um desespero crescente dos personagens.

Nem Von Trier deve entender os sonhos que teve - e o cinema não precisa mesmo passar pela compreensão. Mas "Anticristo" ainda vai render muito debate nos próximos meses. O filme já tem estreia garantida no Brasil, pela distribuidora Califórnia, mas a data ainda não foi definida.

  • Reuters

    O diretor dinamarquês Lars Von Trier participa de entrevista coletiva sobre seu filme "Anticristo"

Visivelmente nervoso com o ataque, já com as mãos tremendo, Von Trier respondeu, em voz baixa e hesitante: "Não tenho que pedir desculpas por meus filmes. Não devo uma explicação. Neste filme, e nesta entrevista coletiva, vocês são meus convidados, e não o contrário".

Como previu o jornalista britânico, Von Trier foi lacônico e não quis comentar as cenas chocantes do filme ou determinadas escolhas feitas nas cenas mais violentas, que envolvem mutilação de genitália. E, mais uma vez, fez seu marketing pessoal sem modéstia. "Só posso dizer que nunca tenho escolha ao criar um filme. É a mão de Deus. Este filme foi um sonho transcrito para o cinema. E eu sou o melhor diretor do mundo".

O diretor de "Dogville" só se mostrou disposto a falar sobre o cineasta russo Andrei Tarkovski (1932-86), a quem dedica o filme. "Tarkovski sim é um verdadeiro deus. Sua relação com o mundo era profundamente religiosa. Eu também me sinto assim". E também destilou ironia ao comentar sua relação com os espectadores e jornalistas. "Não acredito no esforço de conquistar público para meus filmes. E não me incomodo com os ataques de vocês. Sempre fui atacado pela imprensa, e gosto disso".

O ator Willem Defoe, que interpreta o marido terapeuta do filme, que controla a mulher e mais tarde é subjugado por ela, comentou que Von Trier quase não conversa com os atores e não permite nenhum tipo de preparação ou ensaio antes das cenas. "O resultado é que, depois de alguns dias, você fica muito mais flexível e aberto aos impulsos e instintos".

A inglesa Charlotte Gainsbourg, filha de Jane Birkin e Serge Gainsbourg, que interpreta a mulher do filme, protagonista das piores cenas de violência, seguiu Von Trier e também falou pouco. "O mais difícil não foram as cenas de sexo ou nudez, mas aquelas que envolviam muita emoção e sofrimento. Foi uma experiência agradável, mas de uma maneira estranha".