domingo, dezembro 06, 2009

Os melhores filmes latino-americanos da década

O site Cinema Tropical publicou uma lista dos melhores filmes latino-americanos dos anos 2000. Os votantes são críticos, teóricos, professores, pesquisadores e profissionais de Nova York. Não tenho como reclamar do primeiro lugar. O Pântano, de Lucrecia Martel foi um dos filmes argentinos que mais me impressionaram em todos os tempos. Martel, por sinal, teve seus três longas entre os dez primeiros da lista. O quarto lugar para Cidade de Deus é uma aberração maior do que o segundo lugar para Amores Perros, do Iñarritu. O Brasil ainda está representado por vários filmes bons (Ônibus 174 em quinto, Madame Satã em 14º, Edifício Master e O Céu de Suely em 27º, Tropa de Elite em 47º, Jogo de Cena em 22º), e só um deficiente entre os 50 primeiros (Santiago em 20º). Aqui, o link para uma entrevista com a campeã - http://www.bombsite.com/issues/106/articles/3220 - e a lista (os 25 primeiros) para maiores discussões:

1) La Ciénaga (2001) Lucrecia Martel
Argentina

2) Amores Perros (2000) Alejandro González Iñárritu
Mexico

3) Luz Silenciosa / Silent Light (2007) Carlos Reygadas
Mexico

4) Cidade de Deus / City of God (2002) Fernando Meirelles
Brazil

5) Ônibus 174 / Bus 174 (2002) Jose Padilha, Felipe Lacerda
Brazil

6) Y Tu Mamá También (2002) Alfonso Cuarón
Mexico

7) Whisky (2004) Juan Pablo Rebella, Pablo Stoll
Uruguay

8) La mujer sin cabeza / The Headless Woman (2008) Lucrecia Martel
Argentina

9) La niña santa / The Holy Girl (2004) Lucrecia Martel
Argentina

10) El laberinto del fauno / Pan's Labyrinth (2006) Guillermo del Toro
Mexico

11 Nueve Reinas / Nine Queens (2000) Bielinsky
Argentina

12) Bolivia (2001) Caetano
Argentina

13) La nana / The Maid (2009) Silva
Chile

14) Madame Satâ (2002) Ainouz
Brazil

14) Japón (2002) Reygadas
Mexico

16) Historias mínimas / Intimate Stories (2002) Sorín
Argentina

17) La libertad (2002) Alonso
Argentina

18) La teta asustada / The Milk of Sorrow (2009) Llosa
Peru

19) Diarios de motocicleta / The Motorcycle Diaries (2004) Salles
Argentina

20) XXY (2007) Puenzo
Argentina

20) Santiago (2007) Salles
Brazil

22) Jogo de cena / Playing (2007) Coutinho
Brazil

23) El violín (2005 Vargas
Mexico

24) Lake Tahoe (2008) Eimbcke
Mexico

25) Los Rubios (2003) Carri
Argentina

Livro destaca 'era de ouro' de Hollywood na década de 70

Obra mostra como os cineastas tomaram o poder dos grandes estúdios americanos há 40 anos

Ubiratan Brasil, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Tudo começou com uma rajada de balas e terminou com um inferno disfarçado de paraíso - entre Bonnie e Clyde, lançado em 1967, e O Portal do Paraíso, de 1980, o cinema americano viveu seu último apogeu criativo, construído por jovens talentos como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, George Lucas, Steven Spielberg e vários outros. "Se alguma vez houve uma década de diretores, foi a de 1970", sustenta o jornalista Peter Biskind, que fez inúmeras pesquisas e entrevistas para escrever Como a Geração Sexo-Drogas-e-Rock’n’roll Salvou Hollywood: Easy Riders, Raging Bulls, que a editora Intrínseca lançou no fim de semana, com preciosa tradução de Ana Maria Bahiana.

Publicado originalmente em 1999, trata-se de um retrato meticuloso e escabroso de como uma geração de cineastas assumiu o controle da produção cinematográfica americana depois da falência dos grandes estúdios. Rapidamente batizado de Nova Hollywood pela imprensa, o movimento, além de legar um conjunto de filmes históricos, ensinou muito sobre o atual funcionamento de Hollywood.

O ano de 1969 marcou o início de uma recessão de três anos, com uma queda vertiginosa na venda de ingressos. "A Noviça Rebelde foi o derradeiro suspiro dos filmes "para toda família", e nos cinco anos seguintes a Guerra do Vietnã cresceu de um pontinho no mapa em algum lugar do Sudeste Asiático a uma realidade que podia roubar a vida de qualquer garoto, até mesmo do seu vizinho", escreve Biskind.

Assim, diante da hemorragia financeira do fim da década, um novo grupo de executivos estava consideravelmente mais inclinado a correr riscos que seus predecessores, oferecendo condições inigualáveis para os jovens criadores.

A porta estava aberta, portanto, para bandidos heróis (Bonnie e Clyde), família de mafiosos (O Poderoso Chefão), a deterioração mental de um homem violento (Taxi Driver), lunáticos médicos de guerra (M.A.S.H ) até que o estrondoso sucesso de Guerra nas Estrelas (produção de 9,5 milhões de dólares e faturamento de 100 milhões em apenas três meses) e o retumbante fracasso de O Portal do Paraiso (custou 50 milhões de dólares e faturou 1,5 milhão) permitiram que os executivos retomassem as rédeas e criassem um estilo de produção mais cauteloso e menos original. Sobre a ascensão e queda daquela geração, Biskind respondeu, por e-mail, às seguintes questões.

Estado: Os diretores foram culpados pelo fim daquela era criativa?

Biskind: É difícil usar a palavra "culpa". Os diretores certamente não ajudaram ao consumirem muita droga e gastar muito dinheiro. Mas sempre considerei os poderes econômicos, sociais e políticos, decisivamente influentes. Os grandes blockbusters (O Poderoso Chefão, O Exorcista, Tubarão, Guerra nas Estrelas) mudaram tudo. Eles ressuscitaram os estúdios, que então voltaram a se afirmar, aumentando o problema dos diretores ao focarem nesses blockbusters. A Paramount abriu o caminho, retomando o poder que os estúdios foram obrigados a repassar aos diretores. Ao mesmo tempo, o marketing mudou - tornou-se muito mais caro estrear um filme, principalmente por conta do custo de anúncios em TV e nas centenas salas de exibição. E, uma vez terminada a Guerra do Vietnã, com o recrutamento tornando-se coisa do passado, o público dos grandes filmes dos anos 1960 e 70 tornou-se adulto e arrumou emprego. E os garotos que vieram em seguida não estavam nada interessados naquele cinema.

Estado: Quando dirigiu Guerra nas Estrelas, George Lucas suspeitava que o filme seria um tremendo sucesso além de revolucionário?

Biskind: Realmente, não acredito. Ele contou que estava em férias no Havaí e viu longas reportagens sobre o filme na televisão. Ele tinha uma visão profética, no entanto, sobre o cansaço do público em acompanhar tramas complexas como as dirigidas por Robert Altman e Arthur Penn. Lucas percebeu que a plateia queria apenas se divertir por meio de simples universos morais divididos entre chapéus brancos e negros, Luke Skywalker e Darth Vader.

Estado: Como você analisa o estado atual do cinema americano?

Biskind: Muito ruim. Os estúdios produzem caríssimos filmes baseados em quadrinhos e os independentes, que supostamente deveriam segurar as pontas, praticamente desapareceram. A maioria dos estúdios fechou seus departamentos de produções independentes neste ano e os filmes que ainda estão sendo realizados são insípidos e tediosos. Participei do Festival de Nova York e, dos longas a que assisti, salvaram-se apenas os estrangeiros.

Estado: Seu livro foi originalmente publicado em 1999. Que alterações faria se o escrevesse nos dias atuais?

Biskind: Continuo por trás do livro. Desde que ele foi publicado aqui, houve uma certa folga, com algumas pessoas garantindo que os filmes realizados nos anos 1960 e 70 não eram tão bons assim, o que considero uma tremenda bobagem. Foi uma era de ouro e, a julgar pelo atual caminho do cinema, a última. Um detalhe que deixei de lado e que poderia entrar agora é o surgimento das agências de talento nos anos 1970, que tiveram um grande impacto nos 80 e 90 na forma como Hollywood faz cinema. Escrevo agora um artigo para a revista Vanity Fair sobre um agente chamado Freddie Fields, que dirigiu a agência CMA de 1965 a 1975, período em que influenciou enormemente quem fazia cinema na época e nos filmes que realizavam.

Estado: Enquanto a década de 1970 foi a era de poder dos diretores, as seguintes foram dominadas por produtores, distribuidores, homens do marketing. Artistas não sabem cuidar de uma produção ou o poder de um orçamento fala mais alto?

Biskind: Historicamente, os estúdios comandaram o show. Filmagens e publicidade são muito caros, portanto o dinheiro determina, ainda que a revolução digital tenha barateado os custos de produção e novos métodos de distribuição, como por exemplo a internet, tenham feito o mesmo pelo marketing. Os estúdios retomaram o poder nos anos 1980 e recuperaram uma força tal que provocaram uma reação dialética, conhecida como "cinema independente dos anos 1990", que mudou as regras do jogo. Os estúdios, então, cooptaram aquele movimento a tal ponto que o que eles produzem hoje não passa de porcaria. Cineastas, com raras exceções, não são talentosos nem para controlar orçamentos, tampouco para cuidar do próprio trabalho, daí o motivo de termos filmes tão longos nos dias atuais. Essas duas funções teoricamente deveriam ser realizadas por produtores.

Estado: Um fato notório que não consta em seu livro foi a separação entre o produtor Harvey Weinstein e o diretor Martin Scorsese, que influenciou negativamente a realização de Gangues de Nova York.

Biskind: Foi basicamente a colisão entre a ideologia autoral, aquela que pregava "os diretores é que são bons", dos anos 1970, com as regras impostas nos 1990, conferindo o domínio para produtores e distribuidores. Essencialmente, Scorsese saiu vencedor, o que significa dizer que o filme é excessivamente longo, e Harvey, que se destacava pela interferência no trabalho dos cineastas, usurpando suas prerrogativas, ironicamente falhou ao conter e/ou intimidar o diretor, uma vez que o filme se beneficiou de uma cirurgia radical.

Estado: Como é possível analisar o atual cinema americano: sua força se deve a fatores econômicos ou há uma influência em seu estilo?

Biskind: Não se pode separar aspectos econômicos do estilo. Não existe algo como um cinema de pobreza, com um perfil muito próprio, e outro de riqueza, também com um estilo distinto. Hollywood pratica o cinema da riqueza e, nos Estados Unidos, mesmo no que se acostumou chamar de "independente", é preciso ostentar essa pujança na produção em forma de maciez na linguagem, sofisticação estilística, embora um filme que atualmente faz sucesso por aqui, Precious, sobre a periferia negra, seja muito irregular, algo parecido com o brasileiro Cidade de Deus, que, na verdade, é só um pouco irregular. De uma maneira geral, não há muita tolerância aqui para filmes como Gomorra. Preferimos O Poderoso Chefão, uma fantasia.

sábado, dezembro 05, 2009

Telas impressas levam filmes para a embalagem de produtos



Redação do Site Inovação Tecnológica - 04/12/2009

Telas impressas levam filmes para a embalagem de produtos
Em vez de simples rótulos que, ainda que coloridos e criativos, são sempre estáticos, as embalagens poderão conter animações e até filmes.[Imagem: IMEC]

Brevemente, as indústrias terão um recurso a mais para tentar convencer os consumidores a comprar seus produtos.

Em vez de simples rótulos que, ainda que coloridos e criativos, são sempre estáticos, as embalagens poderão conter animações e até filmes.

A possibilidade surgiu a partir dos desenvolvimentos da eletrônica orgânica, que está permitindo a fabricação de circuitos eletrônicos, principalmente telas, por processos similares ao da impressão.

Embalagens com filmes e animações

A primeira empresa especializada na fabricação de telas para embalagens, que permitirá a criação dos rótulos animados, acaba de ser criada na Europa.

A Lumoza é uma empresa emergente criada pela universidade holandesa de Hasselt, em colaboração com o instituto de microeletrônica IMEC e com a empresa Artist Screen.

A tecnologia empregada pela Lumoza para a impressão de telas eletrônicas combina uma tinta eletroluminescente com um circuito eletrônico que controla a sequência e a temporização das animações.

O resultado é uma animação de computador que pode ser impressa em virtualmente qualquer tipo de superfície, incluindo as caixas plastificadas usadas pela maioria dos produtos. Depois de impressa, a tela pode ser dobrada, enrolada e até mesmo ser utilizada para embrulhar outro produto, sem perder a funcionalidade.

Capas para DVDs

Mas as embalagens de produtos não representam a única possibilidade de uso das telas impressas. Como a tecnologia funciona para impressão em grandes áreas, as telas poderão ocupar tetos, cartazes, roupas, veículos e outdoors inteiros.

"Nesta primeira fase, nós estamos focando a indústria de propaganda e de embalagens. A indústria de capas para DVDs também já demonstrou interesse. No longo prazo, vislumbramos aplicações mais duráveis, como na indústria da construção," explica o pesquisador Wouter Moons, um dos criadores da empresa emergente.

Filme com instruções de uso

Embora chegar ao supermercado e se deparar com uma prateleira repleta de embalagens com animações, totalmente poluída visualmente, possa não surgir como um quadro muito agradável, abrir a caixa de um produto e assistir às instruções para a sua montagem na própria caixa pode ser bem útil.

Como toda empresa emergente, somente os clientes em potencial - e, em última instância, os consumidores - poderão dizer se o que é tecnologicamente viável se tornará também um sucesso de mercado.

terça-feira, outubro 13, 2009

PERIGOS DA OBEDIÊNCIA

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Livro e filme retratam como a sociedade administrada e a manipulação da linguagem desenvolvem no indivíduo o ódio pelo outro

RENATO MEZAN
COLUNISTA DA FOLHA

Teria o mês de setembro alguma afinidade secreta com a violência? Diante do número de matanças que ocorreram ou começaram nele, poderíamos brincar com a ideia: em 2001, os atentados de Nova York; em 1939, o início da Segunda Guerra; em 1970, o massacre dos palestinos na Jordânia (o "Setembro Negro"); em 1792, grassa o Terror em Paris, que deu origem aos termos "septembriser" e "septembrisade", significando "massacre de opositores" -e haveria outras a lembrar.
Nesse setembro de 2009, um filme -"A Onda" [em cartaz em SP]- e um livro -"LTI - A Linguagem do Terceiro Reich" [de Victor Klemperer, trad. Miriam Bettina Paulina Oelsner, ed. Contraponto] nos convidam a refletir sobre a facilidade e a rapidez com que a violência se alastra, fazendo com que pessoas comuns se convertam em sádicos ferozes.
O primeiro transpõe para a Alemanha atual um fato que teve lugar em 1967, na cidade de Palo Alto [EUA]. Querendo mostrar a seus alunos como o fascismo se apoderou das massas nos anos 1930, um professor põe em prática um "experimento pedagógico": durante uma semana, organiza com eles o núcleo de um movimento ao qual dão o nome de "Terceira Onda".
Sem lhes contar que ele só "existe" na escola, vai treinando-os com as técnicas consagradas pelo totalitarismo: exercícios de ordem unida, uniformes, adoção de um símbolo e de uma saudação etc. Os efeitos dessas coisas aparentemente inocentes não tardam a surgir: como num passe de mágica, o grupo adquire extraordinária coesão, que dá a cada integrante a sensação de ser parte de algo "grande" ou, pelo menos, maior que sua própria insignificância.
Aparecem também aspectos menos simpáticos: intolerância contra os que se recusam a participar, desprezo, ódio e logo agressões a supostos opositores (os alunos de outra classe, que estão estudando o anarquismo, passam a ser vistos como anarquistas, e portanto inimigos). Escolhido como chefe pela garotada, o professor se identifica com o papel; rapidamente, o "experimento" foge ao controle -dele e dos próprios integrantes- e termina em tragédia: na vida real, um rapaz perde a mão tentando fabricar uma bomba caseira -o que custou a Jones sua licença para lecionar- e, no filme... bem, não vou contar o desfecho.
Em "Psicologia das Massas e Análise do Ego", Freud desvendou os mecanismos psicológicos que nas "massas artificiais" criam a disciplina e o devotamento ao líder: instituindo-o no lugar do superego, os indivíduos que delas participam passam a obedecê-lo mais ou menos cegamente e, imaginando-se igualmente amados por ele, identificam-se uns com os outros, pois de certo modo são todos filhos do grande Pai.
Instrumentos Nesse processo, abdicam de sua capacidade de pensar por si mesmos; compartilhando a crença na doutrina proposta pelo chefe, que geralmente divide o mundo em bons (os adeptos da "causa") e maus (todos os demais), eles a transformam em instrumento de uma dominação capaz de os arrastar a atos que, se não fizessem parte do grupo, jamais teriam coragem de praticar.
Muito bem dirigido e interpretado, o filme mostra como a euforia de ser membro de algo supostamente tão "poderoso", e o desejo de agradar ao líder, vão dando margem a ações cada vez mais próximas da delinquência. Tudo se justifica em nome da "causa", que no caso é nenhuma: a "Onda" não tem conteúdo, a não ser ela mesma e uma vaga solidariedade entre seus membros, que se incentivam e protegem mutuamente.

Forças destrutivas
À medida que transcorre a semana, no íntimo dos adolescentes dão-se modificações de vulto. Por um lado, eles transferem seu entusiasmo juvenil para o movimento, que desperta neles qualidades até então adormecidas: mostram-se criativos, capazes de levar a cabo projetos que exigem organização e trabalho conjunto (como, por exemplo, a montagem de uma peça de teatro).
Por outro, a vibração dessa intensa energia como que dissolve os freios sociais e morais e libera forças destrutivas das quais não tinham consciência: ameaçam colegas, intimidam crianças, um rapaz esbofeteia a namorada que se recusa a participar do grupo, outro adquire um revólver, um terceiro tenta afogar um adversário no polo aquático...
Nas primeiras décadas do século 20, e em escala muitíssimo maior, os mesmos fenômenos ocorreram em várias sociedades europeias. Os mais graves tiveram lugar na Alemanha, cujo führer arrastou o mundo para uma guerra que deixou dezenas de milhões de mortos e refugiados. Muito se escreveu sobre por que os alemães aceitaram seguir um demagogo enlouquecido e por 12 anos aplaudiram suas iniciativas e seus discursos delirantes, que Victor Klemperer -o autor de "LTI"- compara aos "desvarios de um criado bêbado".
Entre os motivos que os levaram a isso, o analisado por ele se destaca como dos mais importantes: a manipulação da linguagem. O estudo da LTI -sigla de "Lingua Tertii Imperii", ou do Terceiro Reich- é uma das mais originais contribuições à compreensão do fenômeno totalitário. Examinando cartazes, livros, jornais, revistas, conversas ouvidas e discursos de dignitários do regime, Klemperer (irmão do regente Otto) mostra como uma ideologia absurda e cruel se entranhou "na carne e no sangue das massas".
Impostas pela repetição e pelo controle absoluto dos meios de comunicação, as frases e expressões nazistas foram "aceitas mecânica e inconscientemente" pelo povo alemão, passando a moldar sua autoimagem e a justificar a barbárie, pelo método simples e eficaz de a fazer parecer natural.
Não é possível, neste espaço, mais do que uma breve referência aos recursos de que se valeram Goebbels [o ministro da Propaganda no regime nazista] e sua corja para obter tão fantástico resultado. Numa prosa límpida, que a tradutora Miriam Oelsner restitui com fluidez e precisão, o autor vai desmontando os ardis que inventaram.
Seu livro revela como a criação de novas palavras, o uso desmesurado de abreviações e de superlativos, a mescla de tecnicismo "moderno" e apelo ao "orgânico", o emprego de estrangeirismos bem-soantes, mas intimidadores, a ênfase declamatória, o exagero, a mentira, a calúnia e, ao mesmo tempo, a pobreza monótona de um discurso calculado para abolir toda nuança e toda reflexão se combinam para produzir alienação.
Até as vítimas do regime empregam, sem se dar conta, termos e expressões da "língua dos vencedores"! No filme, temos vários exemplos do poder ao mesmo tempo mobilizador e mistificador da linguagem. Um deles é a explicação dada pelo professor para o exercício de marchar no lugar: "melhorar a circulação".

Ritmo acelerado
O bater dos pés em uníssono cria um efeito de homogeneidade: a energia posta na pisada se espraia por entre os alunos, fazendo-os sentir-se parte de um só corpo e capazes de grandes feitos. O ritmo se acelera, uma expressão beatífica aparece no rosto de alguns, os olhos brilham -alguma coisa está de fato circulando, uma exaltação crescente- e, sem se darem conta, rendem-se à manipulação de que estão sendo objeto.
(Em "O Triunfo da Vontade", Leni Riefenstahl utiliza a aceleração das respostas dos recrutas à pergunta "de onde você vem?" para sugerir que o movimento hitlerista está se expandindo irresistivelmente.) O que ambos -filme e livro- revelam sobre a capacidade do ser humano para obedecer sem questionar é confirmado por diversos experimentos científicos; para concluir essas observações, mencionemos o mais famoso deles.
Em 1961, por ocasião do processo Eichmann, Hannah Arendt falava da "banalidade do mal": o carrasco nazista não era um monstro, mas um homenzinho insosso como tantos que existem em toda parte.
O psicólogo Stanley Milgram decidiu por à prova a ideia de que, sob certas condições, qualquer pessoa pode agir como Eichmann: na Universidade Yale (EUA), convocou voluntários para o que ficou conhecido como Experimento de Milgram ("google it", caro leitor, e veja por si mesmo os detalhes do teste).
Em resumo, pedia aos "instrutores" que acionassem um aparelho de dar choques a cada vez que os "sujeitos" errassem na repetição de certas palavras. A voltagem iria num crescendo, atingindo rapidamente patamares que, era-lhes dito, poderiam causar danos irreversíveis ao cérebro. A máquina, é claro, estava desligada; do outro lado da parede, o ator que representava a pessoa sendo testada permanecia incólume, apenas gritando como se estivesse de fato sendo eletrocutado.
O objetivo do experimento não era avaliar a memória dele, mas até onde seriam capazes de ir os "instrutores". Para surpresa de Milgram, dois terços deles superaram o limiar além do qual o choque levaria a prejuízos irreparáveis.
Ao chegar ao nível perigoso, muitos se mostravam aflitos, mas cediam aos pedidos do psicólogo para prosseguir; mesmo cientes das consequências para o outro, a garantia de que nada lhes aconteceria bastava para continuarem a apertar os botões. O artigo em que Milgram discute sua experiência -cujo título tomo emprestado para estas notas- tornou-se um clássico da psicologia.
Ela foi reproduzida em outros lugares, com outros sujeitos, por outros cientistas -sempre com resultados próximos aos da primeira vez. A conclusão do psicólogo americano merece ser citada: "A obediência consiste em que a pessoa passa a se ver como instrumento para realizar os desejos de outra e, portanto, não mais se considera responsável por seus atos. Uma vez ocorrida essa mudança essencial de ponto de vista, seguem-se todas as consequências da obediência".
Outros experimentos, como o Experimento Prisional de Stanford, de 1971, confirmam os achados de Milgram e, a meu ver, também a análise de Freud sobre a submissão ao líder.
Nestes tempos em que, sob os mais variados pretextos, volta-se a solicitar nossa adesão a ideais de rebanho, impõe-se meditar sobre o que em nós se curva tão facilmente à vontade de outrem.
A "servidão voluntária" de que falava La Boétie nos idos de 1500 espreita nas nossas entranhas; já o sabia Wilhelm Reich, cujo alerta é hoje tão atual quanto em 1930: "O fascista está em nós".

RENATO MEZAN é psicanalista e professor titular da Pontifícia Universidade Católica de SP. Escreve na seção "Autores", do Mais!.

PSICOLOGIA E SOCIEDADE

Melancolia corporativa Revisão do documento que dita o diagnóstico e o tratamento da depressão acirra conflito entre psiquiatras e psicólogos


Qual é a diferença entre dar um antidepressivo ou placebo a alguém que não está deprimido?


Jim R.Bounds/Associated Press



RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é de hoje que as ciências da mente são uma área turbulenta: psiquiatras, psicólogos, psicanalistas e suas subdivisões sempre se digladiaram no campo teórico e clínico. Houve ciclos de calmaria em algumas décadas, mas o debate sobre o entendimento de uma condição tão antiga quanto a humanidade -a depressão- parece estar levando essas classes de profissionais a um novo pico de agressividade agora.
Dentro de dois anos, o comitê redator da chamada "bíblia" da psiquiatria, o DSM (Manual de Diagnósticos e Estatísticas), deve completar a quinta edição da obra. Pressões para que a depressão receba um tratamento diferente no texto partem de todo canto. O DSM, produzido pela Associação Americana de Psiquiatria, é a baliza de referência dos planos de saúde privados em vários outros países para decidir o que pagar ao paciente deprimido: drogas ou psicoterapia.
Psicólogos clínicos, sobretudo, têm feito um ataque sistemático ao uso de antidepressivos no tratamento a essa condição, e sua posição está agora resumida em livros de dois pesquisadores britânicos.

Placebo turbinado
Irving Kirsch, da Universidade de Hull, acaba de lançar "The Emperor's New Drugs" (As Novas Drogas do Imperador), relato no qual descreve como descobriu aquilo que chama de "mito dos antidepressivos". Declarando-se ex-apóstolo desses medicamentos psiquiátricos, Kirsch conta como foi o processo de pesquisa para a produção de uma análise que desmontou a estatística dos testes clínicos que validaram os remédios da mesma classe do popular Prozac.
A polêmica toda começou em 1998, quando o psicólogo publicou o primeiro resultado de seu trabalho, mostrando que a eficácia dessas drogas -os chamados inibidores de recaptação de serotonina- era toda ou quase toda atribuível ao infame efeito placebo.
Esse é o termo que clínicos usam para definir quando um paciente melhora não porque o remédio foi eficaz, mas porque a crença na cura produziu alguma transformação mental e orgânica que a realizou. Testes clínicos em geral têm um controle para não se deixarem enganar pelo efeito placebo, mas Kirsch mostrou que a adoção de placebos 100% inertes, sem efeito colateral nenhum, sabotou a lógica das pesquisas.
Os pacientes voluntários conseguiam descobrir se estavam tomando drogas ou pílulas de farinha, e os resultados dos testes acabavam distorcidos. "Em vez de comparar placebos normais com drogas, estávamos comparando placebos "turbinados" com placebos normais", escreve o psicólogo.
Nenhum médico questiona hoje a existência do efeito placebo, mas psiquiatras e a indústria farmacêutica negam que este seja o caso dos antidepressivos. Os primeiros ataques de Kirsch a esses medicamentos precipitaram uma enxurrada de artigos em revistas de psiquiatria, com médicos questionando as "metanálises", o método que o pesquisador usou para tirar suas conclusões. A técnica consiste em fazer ajustes estatísticos para poder juntar os resultados de vários testes clínicos diferentes em um único estudo.
A passagem de dez anos, porém, mostrou que o método é seguro, diz Kirsch. "Metanálises são apresentadas regularmente hoje nas principais revistas médicas do mundo", diz, lembrando que a interpretação estatística dos placebos não era o único problema dos testes.

"Segredinho sujo"
Kirsch provocou um verdadeiro rebuliço na comunidade científica quando descobriu que os resultados de muitos testes do Prozac e de drogas similares não haviam sido divulgados ao público. Esses ensaios clínicos -o "segredinho sujo" dos laboratórios farmacêuticos, segundo o psicólogo- eram aqueles em que as drogas não haviam mostrado eficácia.
O trabalho de Kirsch serviu para suscitar um grande debate sobre o sistema de publicação de pesquisas médicas, mas não convenceu a todos que os antidepressivos sejam meros placebos. Muitos psiquiatras consideram o estudo de Kirsch um ataque corporativo dos psicólogos, que devolvem a acusação.
Em janeiro deste ano, o "British Journal of Psychiatry" publicou um editorial afirmando que uma possível falha dos testes clínicos se deveria ao fato de que os antidepressivos estavam sendo prescritos para muitos pacientes que não estavam realmente deprimidos. A fronteira que separa a depressão clínica de uma tristeza normal, porém tem mesmo de ser arbitrária, e já tem havido algum debate sobre como delimitá-la.
"A diferença entre dar a uma pessoa que não está deprimida um antidepressivo ou placebo não pode mesmo ser grande", diz o psiquiatra (e psicanalista) Marco Antônio Alves Brasil, da UFRJ, integrante do conselho consultivo da Associação Brasileira de Psiquiatria. "Para os quadros de depressão leve, ainda não existe uma comprovação de que os antidepressivos seja superiores à psicoterapia."
O debate sobre como diferenciar a depressão "patológica" de uma reação normal de tristeza, diz Alves Brasil, pode levar a uma revisão desse ponto no DSM e na ICD (Classificação Internacional de Doenças), produzida pela Organização Mundial da Saúde. A ICD, a referência usada por médicos dos sistemas de saúde pública brasileiros, também deve ser reeditada em 2011.
Para alguns psiquiatras, é preciso limitar a depressão patológica apenas aos casos em que a melancolia é anormal. "Se você está profundamente triste e não há uma razão para isso, você está doente", diz Alves Brasil. Muitos psicólogos, porém, questionam a existência da depressão orgânica e, junto com ela todas as estatísticas de prevalência (leia texto ao lado).


Tristeza evolutiva

Dupla defende que depressão é traço positivo moldado pela evolução

Aristóteles notou que grandes pensadores costumam ter índole depressiva


DA REPORTAGEM LOCAL

Nos levantamentos epidemiológicos sob critérios da Associação Psiquiátrica Americana, tipicamente cerca de 17% das pessoas acabam sendo diagnosticadas com depressão em algum momento de suas vidas. O número é razoavelmente constante na maior parte dos EUA e onde quer que o método seja reproduzido. Para muitos cientistas, isso revela uma entre duas coisas: ou uma epidemia de tristeza, ou uma falha no sistema diagnóstico.
Em um artigo na última edição da revista "Psychological Review", da Associação Psicológica Americana, uma dupla de cientistas elenca uma série de evidências em favor da segunda hipótese. J. Anderson Thomson e Paul Andrews, da Virginia Commonwealth University, adotam a perspectiva da psicologia evolutiva para investigar o que Darwin e a teoria da evolução teriam a dizer sobre episódios de depressão.
"Acreditávamos que dificilmente um traço tão prevalente na população poderia ser considerado doença", disse Andrews à Folha. Apresentando um arsenal de referências a estudos de genética, neurociência e farmacologia (e literatura das psicologias cognitiva, comportamental e clínica), a dupla chega a uma conclusão: "a depressão é uma adaptação que evoluiu para analisar problemas complexos".
Andrews explica que a literatura científica dá apoio à ideia de que a depressão induz pessoas a pensarem de maneira analítica e "ruminativa", o que as ajuda a solucionar problemas complexos. O benefício do sofrimento melancólico seria o aumento da capacidade de lidar com a desgraça que o causou. "Dilemas sociais são particularmente fortes em sua capacidade de induzir depressão."
Não é uma ideia propriamente nova, reconhece Andrews, lembrando ela remonta à Grécia Antiga. "Aristóteles notou que grandes pensadores com frequência tinham uma personalidade de tendência depressiva", afirma. O psicólogo diz esperar que seu extraordinário corpo de evidência "biológica", porém, comova os psiquiatras mais do que os textos da Antiguidade Clássica.

Contra o diagnóstico
Outro livro lançado neste mês que ataca o modo como psiquiatras têm lidado com a depressão é "Doctoring the Mind" (Medicando a Mente), de Richard Bentall, psicólogo clínico da Universidade de Bangor (Reino Unido).
O britânico, que diz não ser "contra drogas" por princípio, reconstrói uma história da psiquiatria apontando como a teoria vigente sobre depressão e seus protocolos de tratamento farmacológico foram moldados mais pelos fracassos do que pelos sucessos dessa disciplina.
Questionado sobre se os psicólogos não deveriam construir seu próprio manual de diagnósticos como reação, Bentall dá de ombros. "Não precisamos de coisas como o DSM", diz. "Minha abordagem é pôr o foco em cada sintoma das pessoas, em vez de tentar dar um diagnóstico que abarque todos eles."
Convencer os planos de saúde privados disso, porém, é um problema, admite o psicólogo. E a pressão da indústria farmacêutica sempre vai existir.
Para ele, o grande desafio agora é transformar o debate corporativo em um científico. Segundo ele, há algum motivo para otimismo, já que o panorama acadêmico de "batalha" entre psiquiatras e psicólogos já não é tão real. "Conheço alguns psiquiatras que concordam com minhas ideias, e conheço alguns psicólogos que não." (RG)

Os novos dependentes

Confusão entre os conceitos de depressão e melancolia pode tornar o indivíduo "escravo" do mercado farmacêutico

JOEL BIRMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

O questionamento da formulação da psiquiatria biológica, no que se refere à depressão, começa a se realizar no campo das neurociências. Eu diria que esse questionamento chegou tarde, pois aquela se difundiu no espaço social como uma evidência insofismável, fazendo crer à população que a condição depressiva seria não apenas uma anomalia como também uma patologia psíquica, decorrente da desregulação dos neuro-hormônios no sistema nervoso central.
Assim, a depressão seria o signo infalível de uma enfermidade nervosa, a ser devidamente submetida à intervenção psicofarmacológica. Em decorrência disso, a prescrição de antidepressivos se realizou em escala global, como uma nova panaceia para possibilitar a felicidade ampla, geral e irrestrita de todos os desesperados do planeta.
Quanto ao Brasil, o discurso psiquiátrico retomou midiaticamente o enunciado pertinente de Caetano Veloso -de que de perto ninguém é normal- para propor a otimização de antidepressivos para todos, pois a tristeza poderia se camuflar de maneira incipiente nas pequenas dobras do espírito e ser, assim, preventivamente debelada em estado nascente.
Foi nesse mesmo comprimento de onda discursiva que a Organização Mundial de Saúde (OMS) diagnosticou o aumento da incidência da depressão no mundo inteiro e fez ainda o prognóstico preocupante de que essa será uma das enfermidades mais frequentes no futuro próximo.

Sociedade performática
Fala-se menos, nessas afirmações peremptórias e supostamente científicas, sobre os interesses da indústria farmacêutica que estão aqui envolvidos, à medida que foi na conjunção íntima com essa indústria que o discurso psiquiátrico passou a propor uma leitura neurocientífica da depressão e de outros males do espírito.
O que se pretende com isso é transformar esses males em doenças nervosas, enfim, de forma que a singularidade do desejo e da dor humanos seja reduzida à condição biológica do sujeito neuronal.
Ao lado disso, é preciso evocar ainda que a disseminação na prescrição de antidepressivos e de outros psicofármacos se inscreve num projeto sociopolítico mais amplo, em que o incremento da performance das individualidades é a única coisa que interessa aos imperativos da sociedade moderna avançada (Guy Debord).
Nessa perspectiva, as oscilações do humor, a angústia e as demais formas de sofrimento psíquico das individualidades perturbariam os imperativos performáticos dos agentes sociais, devendo assim ser regulados prontamente pela alquimia psicofarmacológica. O que o sujeito possa estar balbuciando com tais dores psíquicas não há nenhum interesse em saber e nenhum espaço dialógico é aberto pela psiquiatria para que aquele possa se anunciar. A demanda de subjetivação foi, assim, abolida da prática psiquiátrica, em conjugação com a suspensão do discurso do paciente.
Como já dizia Platão nos tempos clássicos da pólis grega, tal modelo de prática médica, sem linguagem, seria voltado para os escravos, e não para os cidadãos livres.
Portanto o que é mais inquietante nesse projeto psiquiátrico é a proposição axial de que todos os cidadãos do mundo pós-moderno seriam reduzidos à condição de escravidão, pois não poderiam mais ter acesso ao discurso e à subjetivação, nesse processo de medicalização ilimitado da dor humana.
Desde "Luto e Melancolia" (1917), Freud enunciou uma leitura rigorosa da melancolia, articulando esta com a experiência da perda, na medida em que a perda se transforma para o sujeito num estado de luto patológico. Assim, se perder alguém ou algo deixa a todos tristes, isso não quer dizer que qualquer depressão se transforme necessariamente numa melancolia.
Pelo contrário, a tristeza incita o sujeito a um trabalho de elaboração psíquica sobre aquilo que foi perdido, conduzindo-o, pela fragilização em que foi lançado, à diminuição de sua impotência e consequentemente a seu enriquecimento simbólico. Vale dizer, não poderia existir nem subjetivação nem simbolização sem as perdas e as depressões correlatas.
Essa leitura de Freud se baseou num ensaio prévio de seu discípulo Abraham, que em 1912 iniciou a investigação sistemática da psicose maníaco-depressiva, numa perspectiva psicanalítica. Posteriormente, o mesmo Abraham deu outros passos decisivos na elucidação dessa perturbação psíquica, estabelecendo em 1924 a relação existente entre essa experiência mental e a história libidinal do sujeito.

Diferenciação
Foi pela sua inscrição nessa tradição teórico-clínica que Melanie Klein (1882-1960) estabeleceu a importância crucial no psiquismo do que denominou "posição depressiva", em oposição à posição esquizoparanoide, para sustentar como a posição depressiva seria fundamental para a produção simbólica e para o engendramento dos processos de subjetivação no psiquismo.
Nessa perspectiva, é preciso diferenciar devida e rigorosamente as depressões -que a existência produz necessariamente em todos nós- da melancolia, na medida em que essa evidencia impasses importantes na elaboração da experiência da perda. Algo da ordem do narcisismo estaria aqui em pauta.
Misturar essas diferentes cartas do jogo psíquico, com o nome de depressão, é nos destinar a todos à condição de escravidão no mercado da medicalização contemporânea. O que implica, é claro, possibilitar ao sujeito a invenção de novas ferramentas simbólicas, para que possa forjar outras modalidades de subjetivação.
O que não é possível é nos fazer crer que não exista experiência psíquica sem perdas e delinear assim a existência humana como estando sempre marcada pelo crivo do sujeito, como se este pudesse sempre ser performaticamente vencedor. Enfim, o que a psicanálise pode nos oferecer, no que tange a isso, é a possibilidade de transformar as perdas dos indivíduos em produção simbólica e novas formas de subjetivação.

JOEL BIRMAN é psicanalista e professor da UFRJ e da UERJ.

domingo, agosto 16, 2009

MERCADO DE DVD EM CRISE

Reflexões sobre a exibição, distribuição e produção cinematográfica nacional

OSCILAÇÕES DO MERCADO AUDIOVISUAL

Enquanto se comemora o crescimento de 35% do faturamento da atividade de exibição cinematográfica neste primeiro semestre de 2009, a despeito da crise financeira, com o destaque do cinema brasileiro e a liderança de nossas comédias, é necessário atentarmos para o outro lado do setor que mingua em velocidade espantosa. O de Home Entertainment, ou seja, DVDs. Encontrei no site especializado Filme B um curioso e instigante estudo feito pela colunista Ana Paula Souza que merece toda a nossa atenção e reflexão.

Reproduzo abaixo o artigo cujos gráficos e estatísticas podem ser localizados no link: http://www.filmeb.com.br/portal/html/materia10.php


A CRISE DO MERCADO DE DVDS E SEU IMPACTO SOBRE A PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA NACIONAL


Para responder a essas perguntas é preciso, em primeiro lugar, admitir que a pirataria, apesar de ter interferido diretamente nesse quadro, não riscou a curva descendente sozinha. Outros fatores concorreram para a crise que reduziu o mercado a patamares semelhantes aos de uma década atrás.

Ao contrário do que acontece em boa parte dos países, o mercado brasileiro de homevideosempre esteve assentado na locação, enquanto na Europa e nos EUA a venda direta ao consumidor (sell-thru) é a base do negócio. A crise brasileira tem suas origens, portanto, na queda das vendas para locadoras. Hoje, segundo a União Brasileira de Vídeo (UBV), há cerca de oito mil locadoras no país. Entre 2003 e 2005, havia 12 mil. Pelos cálculos da presidente da UBV, Tânia Lima, a pirataria domina 60% do mercado.

Num ambiente em que a locação respondia por pelo menos 70% do mercado, a entrada dos grandes varejistas no jogo foi, na visão de muita gente, um golpe e tanto. “A venda canibalizou a locação mais rápido do que poderíamos imaginar”, diz Wilson Cabral, diretor da Sony Home Entertainment. “As videolocadoras perderam o timing da venda. As distribuidoras, por sua vez, também não foram atrás do varejista, o varejo é que procurou as empresas. O sell-thru entrou com preços muitos baixos e, com isso, o próprio consumidor perdeu o referencial. Houve uma banalização do produto.” Maior comprador de DVDs do Brasil, as Lojas Americanas repetiram o que foi feito na época áurea do CD, passando a trabalhar com preços baixíssimos e aderindo aos grandes cestos onde os produtos são “pescados” pelo consumidor. Ao adquirir as 127 lojas da Blockbuster, em 2007, as Americanas reduziram o espaço físico para locação e acabaram por desvalorizar a relação do consumidor com o aluguel.

Na opinião de Fred Botelho, dono da 2001 Vídeo – rede especializada que possui lojas em bairros nobres de São Paulo –, ao temerem o varejo, as locadoras criaram uma armadilha para o próprio negócio. “Elas vendiam sorvete, cartão de celular, tudo, menos filmes. Os donos de locadoras sempre tiveram medo de que a venda atrapalhasse a locação, o que foi um erro. As vendas representam metade do meu faturamento.”

Botelho assegura que na 2001 Vídeo não há crise. Logicamente, a rede herdou parte dos clientes da Blockbuster depois que esta foi vendida, mas não se trata só disso. “O que aconteceu, entre 2003 e 2006, é que o mercado cresceu demais. Isso tinha acontecido já na época do VHS, quando todo mundo vendia seu carro, pegava o FGTS e abria uma locadora”.

Uma “coincidência de fatores” levou ao encolhimento do mercado, segundo Fred Botelho. “O DVD, quando surgiu, virou um objeto de desejo, era sinal de status, de cultura. As pessoas compravam compulsivamente. Isso passou. No caso das locadoras, talvez esteja havendo apenas uma readequação. Isso, claro, sem falar em internet, pirataria. Mas havia um excesso de locadoras.”

Quem partilha dessa opinião é Stella Natale, responsável pela área de DVDs da Imovision, distribuidora independente voltada para o segmento de arte. “Pegaram a pirataria para cristo, mas a verdade é que esse mercado viveu uma temporada de excessos. Houve uma espécie de bolha. Alguns representantes comerciais chegaram a ganhar R$ 30 mil de comissão em apenas um mês”, diz Estela.

Cabe notar que, por mais que vendam para o varejo, as distribuidoras jamais terão a mesma margem de lucro. Enquanto uma peça sai por R$ 90 para as locadoras, no sell-thru, em média, esse valor cai para aproximadamente R$ 20. “Como o mercado vem caindo, reduzimos os preços para o varejo porque eles vendem em escala. Trabalhamos hoje com um preço 40% menor que há três anos”, confirma Wilson Feitosa, da Europa. “Todos nós baixamos as tiragens também. Vendíamos 70 mil cópias; hoje, não passamos de 30 mil.”

A queda na venda de DVDs de filmes brasileiros é um bom exemplo do redimensionamento do mercado. Campeão de público entre os filmes nacionais em 2008, com mais de dois milhões de espectadores,Meu nome não é Johnnyvendeu apenas 48 mil discos – sendo 18 mil para locadoras e 30 mil em sell thru. Para se ter uma idéia,Dois filhos de Francisco”, em 2005, vendeu 485 mil cópias.

Em março deste ano, em compensação,Bezerra de Menezes - O diário de um espírito”, apresentou números surpreendentes, com 31 mil unidades vendidas em apenas 20 dias. Mas trata-se de um filme de tema espírita, com um nicho específico. Para as distribuidoras, sobretudo as independentes, a nova equação do vídeo tem se mostrado delicada. “A queda na locação tem um impacto muito grande”, diz Eusébio Munhoz Junior, diretor comercial da Califórnia Filmes. “Quando lanço um filme, já paguei por ele, por isso dependo do retorno para pagar o que investi. Com a queda do faturamento e a desvalorização da moeda, estamos com uma operação difícil.” Situação semelhante vive a Videofilmes, que trabalha com títulos de viés autoral e muitas produções européias. “O último ano foi muito duro. Paramos de comprar filmes comerciais porque são muito caros e, sem o retorno do DVD, é muito difícil que se paguem”, revela Luiz Bretz, diretor da empresa. “Faz uns dez meses que decidimos parar de comprar para ver o que acontece no mercado.” Bretz observa que, em geral, as empresas compram os direitos para todas as mídias, já sabendo que é no cinema que está o maior risco, e, no vídeo, a chance de recuperação. “Sem o amortecimento do vídeo, todos ficam cautelosos”, aposta.



CINEMA ALTERNATIVO PODERÁ SOFRER MAIS

Para Bretz, não há dúvida de que a crise do mercado de homevideo atingirá, em breve, os lançamentos em cinema. Ele acredita que o cinema alternativo, que em geral chega pelas mãos das distribuidoras independentes, deverá sofrer mais. “Pode até ser que isso não tenha acontecido ainda, porque as compras são feitas antecipadamente. Mas sei, por exemplo, que não vale a pena lançar pequenos filmes europeus em DVD. Isso significa, consequentemente, que esses filmes também não devem chegar nos cinemas.” A Videofilmes lançava um filme europeu por mês. Agora, lança um a cada três meses.

Bretz afirma que metade do problema está na pirataria e outra metade na concorrência pelo tempo das pessoas, cada vez mais absorvidas pela internet e variadas formas de entretenimento doméstico. De acordo com ele, o mercado norte-americano produzia, há uma década, cerca de 500 filmes por ano. Com o DVD e a tevê a cabo, esse número saltou para mil. “Mas, com a queda do mercado de vídeo, não haverá recursos para fazer filmes na quantidade de antes.”

Outro risco é que se opte, cada vez mais, pelo lançamento direto no vídeo, já que, como todos sabem, colocar um filme no circuito exibidor tem um custo nada desprezível. Cabral, da Sony, pondera que essa conta é altamente variável, mas exemplifica: “Às vezes, um filme comoPunisher - War Zone”, lançado direto em vídeo (com o títuloO Justiceiro em Zona de guerra”), dá muito mais lucro para a companhia porque não teve os custos do lançamento em cinema”.

A Califórnia lançaráO amante(The Other Man), de Richard Eyre, com Liam Neeson e Antonio Banderas, direto no vídeo. A Europa, por sua vez, recuou nos lançamentos de blockbusters. “Para um filme ir bem no vídeo, ele precisa ter ação, um elenco conhecido e, em geral, essas aquisições são muito caras. Como o mercado está complicado, é difícil apostar no retorno disso”, explica Feitosa.

Munhoz, da Califórnia, diz ainda que, devido à redução do espaço nas locadoras, o próprio lançamento em vídeo tem de ser cada vez mais bem pensado. “Temos que oferecer um produto grande, um produto que elas não tenham como recusar.” Ele cita como exemplo "As duas faces da lei", com Al Pacino e Robert de Niro, o filme mais alugado no Brasil em janeiro. “Estamos buscando filmes de primeira grandeza.”

ARRECADAÇÃO DO ARTIGO 3º JÁ CAIU

Um dos efeitos preocupantes da queda de faturamento no Brasil diz respeito à utilização do Artigo 3º da Lei do Audiovisual, que permite às majors e às distribuidoras independentes que remetem royalties para o exterior a aplicar parte do imposto sobre as remessas em produções nacionais. Os números de 2008 ainda não haviam sido fechados pela Ancine até o fim de março, mas de 2006 para 2007 a arrecadação geral do Artigo 3º já havia caído 30%. Segundo Cabral, em 2005, 70% do que a Sony investiu em cinema brasileiro, via Artigo 3º, vinha do vídeo. Em 2006, 60%. “Para simplificar, é possível dizer que, para cada real vindo do cinema, são colocados R$ 2 do vídeo. Não tenho dúvida de que o investimento diminuirá”. Luiz Bretz tem outra conta feita na ponta do lápis. “Como o mercado caiu cerca de 50%, se você conseguia R$ 50 milhões por ano, conseguirá metade disso, o que significa uma perda de dez filmes brasileiros fortes por ano”.

Os riscos da crise, como se vê, não são poucos. E quais seriam as saídas? A indústria responde, em coro, que o pó de pirlimpimpim é o Blu-ray. O ponto de interrogação surge, porém, quando se sabe que, para aproveitar a alta definição do novo formato, é preciso não só um novo aparelho, mas também uma TV adequada. Em compensação, ao contrário do que aconteceu com o VHS, o Blu-ray reproduz também o DVD normal – portanto, o consumidor não precisará repor sua filmoteca imediatamente. “Já passei por todas as mudanças de formato, desde a indústria fonográfica. Num primeiro momento, sempre se põe em dúvida a mudança na base de aparelhos”, diz Cabral. “O que tem acontecido é que a tecnologia é cada vez mais veloz. O VHS durou 23 anos. O DVD, uns dez. Vamos ver o que acontecerá com o Blu-ray. Mas que ele virá, virá.”

Fred Botelho tinha a idéia de começar a alugar Blu-Ray no primeiro semestre deste ano, mas, simplesmente, isso não aconteceu. “Os clientes não têm demonstrado interesse. E eu achava que, pelo público que frequenta a 2001, seria a primeira porta onde deveriam bater.”


CERCA DE 200 TÍTULOS FORAM LANÇADOS EM BLU-RAY

Ainda assim, a exemplo do que acontece com a Sony, as outras majors, como Fox e Warner, apostam muitas fichas no novo formato que, em 2008, teve 202 títulos lançados e vendeu 93 mil unidades. “Mas era o começo. Em 2009, isso já mudará”, aposta Cabral. Mesmo com a crise econômica? “Em tese, a crise pode dificultar a aquisição de equipamentos por parte da população. Por outro lado, todos dizem que, em época de crise, o homevideo cresce.”

Outro investimento da indústria é no chamado entretenimento doméstico – que não depende apenas dos filmes. A Warner, por exemplo, registrou, de 2007 para 2008, um crescimento de 38% no número de unidades vendidas de séries de tevê e, cada vez mais apostará em games edownload.

“A Warner deixou de se chamar Homevideo para virar Home Entertainment. Estamos interessados em todo o entretenimento doméstico”, pontua o diretor de marketing Rodrigo Drysdale. Ele lembra que, em 2008, o mundo vendeu US$ 26 bilhões em DVD e US$ 32 bilhões em games. A empresa começará este ano a disponibilizar filmes paradownload.

Wilson Zaveri, diretor comercial da PlayArte, duvida que a integração entre vídeo e internet ocorra tão cedo. “Deve demorar ainda uns quatro anos para que isso tenha um volume expressivo. O Brasil é muito carente no que diz respeito à banda larga”.

A despeito do cenário cheio de nuvens, quem está há tempos no mercado aposta que esta crise, como outras, será superada. “O mercado de videolocadoras sempre viveu de altos e baixos”, resume Munhoz.

Recentemente reunidos no Mip-TV, profissionais da área afirmaram ser difícil prever o futuro do mercado de homevideo. No Brasil, tendo em vista o cenário atual, é provável que o DVD ganhe uma sobrevida, pois a crise financeira deve atrasar a implantação do Blu-ray e a chegada maciça da banda larga. Daí em diante, tentar adivinhar a rapidez e o alcance da convergência seria apenas um exercício de futurologia. Enquanto isso, o DVD busca maneiras de se reposicionar no mercado, como está acontecendo nos Estados Unidos, onde as locadoras estão oferecendo superpromoções e as distribuidoras investindo em estratégias de preço e marketing

terça-feira, agosto 04, 2009

No embalo dos festivais

No embalo dos festivais

Alunos de cinema nunca tiveram tanto espaço para divulgar seus filmes

Bruna Tiussu - Especial para O Estado de S. Paulo

Ricky: 'Um obstáculo no Brasil é ter chance de exibição e distribuição comercial'

JONNE RORIZ/AE

Ricky: 'Um obstáculo no Brasil é ter chance de exibição e distribuição comercial'

SÃO PAULO - Vida de cineastas profissionais pode ser complicada, mas a dos iniciantes nunca foi tão fácil, graças a um pacote que mistura avanço tecnológico, oferta razoável de graduações em Cinema e festivais, muitos festivais – cerca de 50 no País, só para filmes de universitários. “As novas tecnologias tornaram muito mais rápida a edição dos filmes e os festivais dão visibilidade. Sem contar que há outros meios de divulgação, como internet e celular”,diz José Gozze, coordenador do curso de Cinema da Faap. “Antes o aluno fazia um curta que ia para uma salinha, só para pais e amigos verem.”

“Percebe-se também um salto qualitativo na estética e na linguagem”, afirma Elianne Ivo, responsável pelas produções do curso de Cinema da Universidade Federal Fluminense, cujos alunos rodam 40 curtas por semestre. De acordo com o último censo do Ministério da Educação (MEC), de 2007, o Brasil tem 32 cursos de Cinema como o da UFF e 45 de Audiovisual, a maioria produzindo em tecnologia digital.

Hoje é comum alunos filmarem de olho em festivais – nacionais ou internacionais. É o caso de Ricky Mastro, de 31 anos, quartanista da Faap, autor de curtas premiados. Filmado em 2008 para uma disciplina do curso, Cinco Minutos fala da elasticidade do tempo. Foi exibido na mostra paralela de Cannes; no Newfest, de Nova York; no Festival de Santa Maria da Feira, em Portugal; e em oito festivais brasileiros. “Ser escolhido é sentir-se reconhecido. Um obstáculo no Brasil é ter a chance de exibição e distribuição comercial.”

Ricky agora está produzindo seu trabalho de conclusão de curso, o curta A Mais Forte, sobre a dificuldade de aceitação do outro nos relacionamentos. Ele diz preferir falar de temas ligados à sua realidade. “Quando dirige um filme, você tem de fazer os outros envolvidos no projeto se apaixonarem também por aquilo. Por isso, você precisa falar de algo que conheça muito.”

Ricardo Monastier, de 24, aluno do último ano da USP, também pensa assim. Seu próximo filme será sobre fases de mudança na vida. “Quando você fala de temas distantes é mais fácil errar.”

Para Gozze, há uma certa coincidência de temas, reflexo da geração e suas preocupações. Mas ele diz que, mesmo assim, há variedade. “Aparecem documentários, animações, produções poéticas.”

Um dos eventos mais concorridos é o Festival Brasileiro de Cinema Universitário, no Rio, dividido em mostra nacional e internacional. A edição deste ano começa amanhã e vai até 9 de agosto. A coordenadora do festival, Flavia Candida, também diz que há coincidência de temas nos 350 curtas inscritos. “Eles têm personagens enlouquecendo, atormentadas, querendo mudar de vida. Acho que reflete o vazio da geração que, apesar do excesso de informação, se vê muito solitária.”

Dos 44 filmes exibidos, 7 serão premiados. O júri também escolherá o melhor roteiro inédito, que será depois produzido por meio do Projeto Sal Grosso, braço do festival que recebe recursos de parceiros.

Raul Maciel, de 21 anos, da UFSCar, ganhou a 8ª edição do Sal Grosso, em 2008. Seu curta Água Viva fala da angústia de uma jovem que desconfia estar grávida. Para rodar o filme, Raul teve a colaboração de alunos da Faap, UFF, USP e da Faculdade de Artes do Paraná. “O Sal Grosso quer promover a interação de alunos de diferentes universidades.”

Outro evento importante que, apesar de não ser restrito a universitários, também recebe filmes de amadores é o Festival do Minuto. O cineasta Marcelo Masagão, idealizador do projeto, o chama de “festival das ideias”. “O grande lance dos estudantes é que ainda não estão inseridos no mercado, podem experimentar sem compromisso.”

A equipe do festival recebe por dia, em média, 15 vídeos de 1 minuto de duração, avaliados pelos 32 curadores juniores, a maioria universitários. “É uma escola para nós”, diz Verônica Brandão, de 27, curadora e aluna de Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás. Para ela, tanto os curtas que avalia quanto os produzidos na UEG têm mostrado qualidade. “Ainda pecamos na técnica e abusamos de clichês, mas acho a criatividade exuberante. Universitário é um povo empolgado. É só dar asas e dinheiro que vamos longe.”