domingo, dezembro 06, 2009

Os melhores filmes latino-americanos da década

O site Cinema Tropical publicou uma lista dos melhores filmes latino-americanos dos anos 2000. Os votantes são críticos, teóricos, professores, pesquisadores e profissionais de Nova York. Não tenho como reclamar do primeiro lugar. O Pântano, de Lucrecia Martel foi um dos filmes argentinos que mais me impressionaram em todos os tempos. Martel, por sinal, teve seus três longas entre os dez primeiros da lista. O quarto lugar para Cidade de Deus é uma aberração maior do que o segundo lugar para Amores Perros, do Iñarritu. O Brasil ainda está representado por vários filmes bons (Ônibus 174 em quinto, Madame Satã em 14º, Edifício Master e O Céu de Suely em 27º, Tropa de Elite em 47º, Jogo de Cena em 22º), e só um deficiente entre os 50 primeiros (Santiago em 20º). Aqui, o link para uma entrevista com a campeã - http://www.bombsite.com/issues/106/articles/3220 - e a lista (os 25 primeiros) para maiores discussões:

1) La Ciénaga (2001) Lucrecia Martel
Argentina

2) Amores Perros (2000) Alejandro González Iñárritu
Mexico

3) Luz Silenciosa / Silent Light (2007) Carlos Reygadas
Mexico

4) Cidade de Deus / City of God (2002) Fernando Meirelles
Brazil

5) Ônibus 174 / Bus 174 (2002) Jose Padilha, Felipe Lacerda
Brazil

6) Y Tu Mamá También (2002) Alfonso Cuarón
Mexico

7) Whisky (2004) Juan Pablo Rebella, Pablo Stoll
Uruguay

8) La mujer sin cabeza / The Headless Woman (2008) Lucrecia Martel
Argentina

9) La niña santa / The Holy Girl (2004) Lucrecia Martel
Argentina

10) El laberinto del fauno / Pan's Labyrinth (2006) Guillermo del Toro
Mexico

11 Nueve Reinas / Nine Queens (2000) Bielinsky
Argentina

12) Bolivia (2001) Caetano
Argentina

13) La nana / The Maid (2009) Silva
Chile

14) Madame Satâ (2002) Ainouz
Brazil

14) Japón (2002) Reygadas
Mexico

16) Historias mínimas / Intimate Stories (2002) Sorín
Argentina

17) La libertad (2002) Alonso
Argentina

18) La teta asustada / The Milk of Sorrow (2009) Llosa
Peru

19) Diarios de motocicleta / The Motorcycle Diaries (2004) Salles
Argentina

20) XXY (2007) Puenzo
Argentina

20) Santiago (2007) Salles
Brazil

22) Jogo de cena / Playing (2007) Coutinho
Brazil

23) El violín (2005 Vargas
Mexico

24) Lake Tahoe (2008) Eimbcke
Mexico

25) Los Rubios (2003) Carri
Argentina

Livro destaca 'era de ouro' de Hollywood na década de 70

Obra mostra como os cineastas tomaram o poder dos grandes estúdios americanos há 40 anos

Ubiratan Brasil, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Tudo começou com uma rajada de balas e terminou com um inferno disfarçado de paraíso - entre Bonnie e Clyde, lançado em 1967, e O Portal do Paraíso, de 1980, o cinema americano viveu seu último apogeu criativo, construído por jovens talentos como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, George Lucas, Steven Spielberg e vários outros. "Se alguma vez houve uma década de diretores, foi a de 1970", sustenta o jornalista Peter Biskind, que fez inúmeras pesquisas e entrevistas para escrever Como a Geração Sexo-Drogas-e-Rock’n’roll Salvou Hollywood: Easy Riders, Raging Bulls, que a editora Intrínseca lançou no fim de semana, com preciosa tradução de Ana Maria Bahiana.

Publicado originalmente em 1999, trata-se de um retrato meticuloso e escabroso de como uma geração de cineastas assumiu o controle da produção cinematográfica americana depois da falência dos grandes estúdios. Rapidamente batizado de Nova Hollywood pela imprensa, o movimento, além de legar um conjunto de filmes históricos, ensinou muito sobre o atual funcionamento de Hollywood.

O ano de 1969 marcou o início de uma recessão de três anos, com uma queda vertiginosa na venda de ingressos. "A Noviça Rebelde foi o derradeiro suspiro dos filmes "para toda família", e nos cinco anos seguintes a Guerra do Vietnã cresceu de um pontinho no mapa em algum lugar do Sudeste Asiático a uma realidade que podia roubar a vida de qualquer garoto, até mesmo do seu vizinho", escreve Biskind.

Assim, diante da hemorragia financeira do fim da década, um novo grupo de executivos estava consideravelmente mais inclinado a correr riscos que seus predecessores, oferecendo condições inigualáveis para os jovens criadores.

A porta estava aberta, portanto, para bandidos heróis (Bonnie e Clyde), família de mafiosos (O Poderoso Chefão), a deterioração mental de um homem violento (Taxi Driver), lunáticos médicos de guerra (M.A.S.H ) até que o estrondoso sucesso de Guerra nas Estrelas (produção de 9,5 milhões de dólares e faturamento de 100 milhões em apenas três meses) e o retumbante fracasso de O Portal do Paraiso (custou 50 milhões de dólares e faturou 1,5 milhão) permitiram que os executivos retomassem as rédeas e criassem um estilo de produção mais cauteloso e menos original. Sobre a ascensão e queda daquela geração, Biskind respondeu, por e-mail, às seguintes questões.

Estado: Os diretores foram culpados pelo fim daquela era criativa?

Biskind: É difícil usar a palavra "culpa". Os diretores certamente não ajudaram ao consumirem muita droga e gastar muito dinheiro. Mas sempre considerei os poderes econômicos, sociais e políticos, decisivamente influentes. Os grandes blockbusters (O Poderoso Chefão, O Exorcista, Tubarão, Guerra nas Estrelas) mudaram tudo. Eles ressuscitaram os estúdios, que então voltaram a se afirmar, aumentando o problema dos diretores ao focarem nesses blockbusters. A Paramount abriu o caminho, retomando o poder que os estúdios foram obrigados a repassar aos diretores. Ao mesmo tempo, o marketing mudou - tornou-se muito mais caro estrear um filme, principalmente por conta do custo de anúncios em TV e nas centenas salas de exibição. E, uma vez terminada a Guerra do Vietnã, com o recrutamento tornando-se coisa do passado, o público dos grandes filmes dos anos 1960 e 70 tornou-se adulto e arrumou emprego. E os garotos que vieram em seguida não estavam nada interessados naquele cinema.

Estado: Quando dirigiu Guerra nas Estrelas, George Lucas suspeitava que o filme seria um tremendo sucesso além de revolucionário?

Biskind: Realmente, não acredito. Ele contou que estava em férias no Havaí e viu longas reportagens sobre o filme na televisão. Ele tinha uma visão profética, no entanto, sobre o cansaço do público em acompanhar tramas complexas como as dirigidas por Robert Altman e Arthur Penn. Lucas percebeu que a plateia queria apenas se divertir por meio de simples universos morais divididos entre chapéus brancos e negros, Luke Skywalker e Darth Vader.

Estado: Como você analisa o estado atual do cinema americano?

Biskind: Muito ruim. Os estúdios produzem caríssimos filmes baseados em quadrinhos e os independentes, que supostamente deveriam segurar as pontas, praticamente desapareceram. A maioria dos estúdios fechou seus departamentos de produções independentes neste ano e os filmes que ainda estão sendo realizados são insípidos e tediosos. Participei do Festival de Nova York e, dos longas a que assisti, salvaram-se apenas os estrangeiros.

Estado: Seu livro foi originalmente publicado em 1999. Que alterações faria se o escrevesse nos dias atuais?

Biskind: Continuo por trás do livro. Desde que ele foi publicado aqui, houve uma certa folga, com algumas pessoas garantindo que os filmes realizados nos anos 1960 e 70 não eram tão bons assim, o que considero uma tremenda bobagem. Foi uma era de ouro e, a julgar pelo atual caminho do cinema, a última. Um detalhe que deixei de lado e que poderia entrar agora é o surgimento das agências de talento nos anos 1970, que tiveram um grande impacto nos 80 e 90 na forma como Hollywood faz cinema. Escrevo agora um artigo para a revista Vanity Fair sobre um agente chamado Freddie Fields, que dirigiu a agência CMA de 1965 a 1975, período em que influenciou enormemente quem fazia cinema na época e nos filmes que realizavam.

Estado: Enquanto a década de 1970 foi a era de poder dos diretores, as seguintes foram dominadas por produtores, distribuidores, homens do marketing. Artistas não sabem cuidar de uma produção ou o poder de um orçamento fala mais alto?

Biskind: Historicamente, os estúdios comandaram o show. Filmagens e publicidade são muito caros, portanto o dinheiro determina, ainda que a revolução digital tenha barateado os custos de produção e novos métodos de distribuição, como por exemplo a internet, tenham feito o mesmo pelo marketing. Os estúdios retomaram o poder nos anos 1980 e recuperaram uma força tal que provocaram uma reação dialética, conhecida como "cinema independente dos anos 1990", que mudou as regras do jogo. Os estúdios, então, cooptaram aquele movimento a tal ponto que o que eles produzem hoje não passa de porcaria. Cineastas, com raras exceções, não são talentosos nem para controlar orçamentos, tampouco para cuidar do próprio trabalho, daí o motivo de termos filmes tão longos nos dias atuais. Essas duas funções teoricamente deveriam ser realizadas por produtores.

Estado: Um fato notório que não consta em seu livro foi a separação entre o produtor Harvey Weinstein e o diretor Martin Scorsese, que influenciou negativamente a realização de Gangues de Nova York.

Biskind: Foi basicamente a colisão entre a ideologia autoral, aquela que pregava "os diretores é que são bons", dos anos 1970, com as regras impostas nos 1990, conferindo o domínio para produtores e distribuidores. Essencialmente, Scorsese saiu vencedor, o que significa dizer que o filme é excessivamente longo, e Harvey, que se destacava pela interferência no trabalho dos cineastas, usurpando suas prerrogativas, ironicamente falhou ao conter e/ou intimidar o diretor, uma vez que o filme se beneficiou de uma cirurgia radical.

Estado: Como é possível analisar o atual cinema americano: sua força se deve a fatores econômicos ou há uma influência em seu estilo?

Biskind: Não se pode separar aspectos econômicos do estilo. Não existe algo como um cinema de pobreza, com um perfil muito próprio, e outro de riqueza, também com um estilo distinto. Hollywood pratica o cinema da riqueza e, nos Estados Unidos, mesmo no que se acostumou chamar de "independente", é preciso ostentar essa pujança na produção em forma de maciez na linguagem, sofisticação estilística, embora um filme que atualmente faz sucesso por aqui, Precious, sobre a periferia negra, seja muito irregular, algo parecido com o brasileiro Cidade de Deus, que, na verdade, é só um pouco irregular. De uma maneira geral, não há muita tolerância aqui para filmes como Gomorra. Preferimos O Poderoso Chefão, uma fantasia.