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Shakespeare e o seu tempo
Shakespeare |
O artista e as suas circunstâncias
Isabel I, a rainha herética |
A execução de Mary Stuart
Mary Stuart, executada pela prima |
A excomunhão de Isabel
A invencível armada
O Desastre da Armada, 1588 |
Shakespeare registrou esse extraordinário acontecimento que salvou o país de uma ocupação estrangeira na peça Cimbelino (ato III, cena 1): "lembrai-vos... das resistências naturais que vossa ilha oferece, verdadeiro jardim de Netuno, eriçada, estacada com rochas inacessíveis, vagas bramindo, bancos de areia que, em vez de sustentarem os navios inimigos, os engoliriam até os mastros... um desastre, o primeiro que jamais o atingiu, repeliu das nossas costas, duas vezes vencido, e os seus navios, simples joguetes dos nossos terríveis mares, sacudidos pelas ondas, esmagaram-se facilmente como casacas contra os nossos rochedos."
o rei das dores
Rei Ricardo: Ai! Por que me vejo obrigado a comparecer ante um rei antes de haver sacudidos os pensamentos reais pelos quais eu reinava? Apenas aprendi a insinuar-me, adular, inclinar-me e dobrar os membros. Daí tempo para o meu pesar, para eu instruir-me nesta submissão. Não obstante recordo perfeitamente os traços destes homens. Não me pertenciam? Não me saudavam gritando: "Salve?" Assim fazia Judas com Cristo. Mas ele entre doze homens não encontrou mais do que só falso; eu, entre doze mil, não acho um só fiel. Deus salve o rei! Ninguém contestará: Amém? Devo ser ao mesmo tempo sacerdote e acólito? Pois bem: amém. Deus salve o rei, ainda que já não seja!
York: Para cumprir de bom grado o que a fadigas da majestade te fizeram oferecer: a resignação do teu poder e da tua coroa a favor de Henrique Bolingbroke.
Rei Ricardo: Dai-me a coroa. Tomai-la aqui, primo, deste lado minha mão, do outra a vossa. Esta coroa de ouro assemelha-se agora a um poço profundo, no qual se encontram alternativamente dois recipientes: no alto como que sempre bailando no ar, o que está vazio; o outro, abaixo, invisível e enchido de água; sou eu o recipiente que se encontra embaixo, transbordando em lágrimas; bebo minhas dores enquanto vós ascendeis ao alto.
Bolingbroke: Acreditas que renuncias voluntariamente à coroa?
Rei Ricardo: A minha coroa sim, mas minhas dores serão sempre minhas. Podeis despojar-me do meu poder e das minhas dignidades, mas não das minhas dores: delas sempre serei rei.
A conspiração da pólvora
A situação material da Inglaterra isabelina
Torre de Londres, prisão do Estado |
O fechamento das terras
A dura lei da época (enforcamento coletivo) |
C.Marlowe, autor do Dr.Fausto |
A cosmografia de Shakespeare
Harold Bloom, o mais atualmente conhecido crítico norte-americano, coloca-o em primeiro lugar no seu cânone dos autores mais importantes do Ocidente, enquanto Otto Maria Carpeaux considerou-o "o maior poeta dos tempos modernos e - salvo as limitações do nosso juízo crítico - de todos os tempos." Parecer idêntico, aliás, ao de Ben Jonson, amigo de Shakespeare:
"...Confesso que teu escritos são tais, que nem homem nem musa podem abarcá-los suficientemente...Alma do século! Aplauso, delícia, assombro da nossa cena!... És um monumento sem tumba, e viverás enquanto viver teu livro e haja inteligências para lê-lo e elogios a tributá-lo... Triunfa Bretanha minha, pois tem um a oferecer, a quem todas as cenas da Europa irão render homenagem!... Que ele não é de um século, senão de todos os tempos...; doce cisne de Avon!...
O sucesso
Casal de nobres num jogo de cartas |
Do Avon ao Tâmisa
O palco do Globe |
A publicação da obra
O teatro de Shakespeare
O palco e o público do The Globe |
Shakespeare e a Companhia do Camarlengo (mais tarde chamada The King's men) construíram um teatro - o Globe Theatre - na margem esquerda do Rio Tâmisa, no chamado Bankside, logo após a Ponte da Torre de Londres, em 1599. As sessões só ocorriam durante a temporada de verão, pois o local não era coberto. Também as suspendiam quando havia algum surto de peste, o que ocorria freqüentemente. Aliás há estudos que mostram como as temporadas e por conseqüência as peças que o bardo escrevia eram, por assim dizer, condicionadas pelos surtos pestíferos que assolavam a capital inglesa com impressionante regularidade. Então, para ganhar a vida a companhia, partindo de Londres, fazia uma turnê pelo interior. Aliás, no Hamlet (ato III, cena II), Shakespeare faz referência a esse tipo de apresentação itinerante, de teatro ambulante mostrando a chegada de um grupo de atores ao Castelo de Elsenor para uma encenação na Corte, fazendo com que a atuação deles, ainda que indiretamente, fosse decisiva na elucidação do crime que vitimou o pai do príncipe.
O Globe, fazendo juz ao nome, tinha a forma de um círculo - "Wooden O" - com um grande pátio interno onde cabiam de 500 a 600 pessoas que assistiam o espetáculo a preços módicos. As arquibancadas estavam divididas em três andares erguidos ao redor do palco e acolhiam os mais aquinhoados. Calcula-se que comportava mais 1.500 espectadores, perfazendo uns dois mil ao todo nos dias de casa lotada. Sua dimensão alcançava 92 metros e tinha dez de altura. O primeiro Globe não durou muito, pois foi devorado por um incêndio em 1613, três anos antes da morte de Shakespeare, durante a encenação de Henrique VIII, quando uma fagulha do canhão saltou sobre o telhado de palha. Imagina-se que Shakespeare, já retirado para Stratford-on-Avon aposentado, deveria ter voltado para auxiliar na recuperação do prédio.
fechamento dos teatros
Em 1642, com o início da Revolução Puritana - que terminou decapitando o rei Carlos I, em 1649 - todas as casas de espetáculo foram fechadas. Os puritanos não aceitavam as representações teatrais, considerando-as pecaminosas ou heréticas. Até a morte de Cromwell em 1658, nada mais foi visto em Londres ou na Inglaterra. Somente com a restauração monárquica, com a volta dos Stuart ao poder em 1661, o rei Carlos II, determinou-se a reabertura dos espetáculos. Eles haviam ficado fechados por quase vinte anos! Mas o Globe não gozou por muito tempo a liberdade recém-conquistada, pois em 1666 um devastador incêndio arrasou com a cidade inteira, incinerando junto o belo teatro que Shakespeare ajudara à construir.
O Globe inteiramente restaurado |