quinta-feira, setembro 25, 2008

Linha de Passe em contexto


Por Thiago Calligares


O filme começa apresentando os personagens como alguns estereótipos do subúrbio, o motoboy que batalha para se manter vivo, o crente que tem a religião como refúgio da vida sofrida e sem expectativas, o filho de pai desconhecido, o amador que sonha e batalha para ser jogador de futebol profissional e, por fim, a mãe irresponsável por esbanjar filhos sem ter condições e que não sabe criá-los nem manter o controle da situação, mas é mulher batalhadora que tenta fazer o melhor para seus filhos, sem ter instrução para tal, ou seja, uma família onde todos têm de, sozinhos, correr atrás de sua sobrevivência, seus sonhos e de respostas para resolverem seus conflitos internos.


No decorrer do filme, enquanto ele vai se desenvolvendo, podemos perceber que os estereótipos vão se desfazendo um pouco, dando um ar mais realista a cada um deles, colocando conflitos aos personagens em relação ao seu caráter e a sua fé no que faz e no que busca, mesmo que essa busca seja apenas por se manter na legalidade de seus atos e pensamentos.


Tecnicamente o filme se mostrou decente, bem feito e belo, com sutileza, sem impressionismos visuais, tanto na fotografia, que ora incomodava pela subexposição provavelmente proposital, quanto na montagem, que contava paralelamente a história dos cinco personagens que, em alguns momentos, se fundiam, e suas transições de planos que faziam uma fusão de cenas na mente do espectador proporcionada pela presença de algum signo que, estando no ultimo enquadramento da cena anterior e no primeiro da cena posterior, nos possibilitava essa impressão.

Com atuações muito boas e realistas, o filme incomoda quando quer, emociona, envolve, dá um nó na garganta e, nos momentos de alívio cômico, nos faz rir, porém, como todo integrante da alta burguesia que não conhece de perto a rotina de uma periferia e a enxerga somente do alto, como algo baixo em todos os sentidos, Walter Salles, filho de banqueiro, com sua visão imaginária e literária da realidade periférica, apela muito nos palavrões, o que incomoda, por “sujar” o filme e por ser forçado, pois quem tem o mínimo de contato com essa realidade sabe que não é bem assim, e o filme não está, como em outras recentes produções nacionais, retratando a realidade explicita da criminalidade, portanto, pode ser usado, mas com mais sutileza ou, no mínimo, mais realismo, mas essa falha não se estende pelo filme todo, aparece entre o início e o meio do filme ( primeiro e segundo ato). Tal falha acaba desestimulando o espectador e causando comentários que viram discussão em plena sessão.


Acredito que o final em aberto dos personagens seja ao mesmo tempo uma qualidade como um defeito do filme, pois, interage com o espectador, fazendo-o continuar a história em sua imaginação diante das possibilidades do filme, mas, como é exibido em meio a estréias blockbuster como no cinemark por exemplo, o público exige uma história completa, afinal estão indo em busca de entretenimento e não de arte, e geralmente esse público tem certa dificuldade, por mal costume, de entender uma narrativa diferente que necessita um pouco mais de reflexão e imaginação.

Nenhum comentário: