Resenhas dos alunos de Cinema da Metodista do novo (primeiro como diretor) filme do ator.
Existe um deslocamento latente quando chegamos nessa época de fim de ano. As festas, os olhares e o clima nostalgico nos corroem apesar da aparente intensão de esquecimento do passado e dos fatores que nos formaram perante seus amigos e família. Todos se reunem e nos desejam "feliz natal", o sobrinho chato, a tia bêbada, o tio "aproveitador e conquistador", o marido capacho da esposa e o tio deslocado de tudo aquilo. Feliz Natal, longa de estréia do ex-ator Selton Mello é sobre isso, relações pessoais e familiares e suas consequências filtradas por aparências.
Calcado em Lucrecia Martel e John Cassavetes, Selton Mello consegue uma estréia regular, com momentos incríveis de aprofundamento psicológico de seus personagens, e outros momentos visíveis de repetição de linguagem que acabam por irritar sua platéia, comum em filmes de estreiantes. O êxito de Selton em sua obra é de conseguir retirar a densidade exata de seus atores, todos tem seu momento de brilhantismo, como Darlene Glória como o ponto mais vísivel da disfuncionalidade da família com sua vó/mãe/tia/sogra inteiramente acabada e entregue a seus vicios e seu passado, e Lucio Mauro desconstruindo seu personagem típico de humor.
A fotografia de Lula Carvalho consegue com êxito exprimir sua necessidade densa e climática em todos os momentos do filme, mas se torna falha quando repete enquadramentos do perfil do personagem vivido por Leonardo Medeiros em quase todos os seus momentos. Mas é uma fotografia agil, que indica a solidão e sofrimento dos personagens ali mostrado, com hiper-closes e seu alto-contraste.
Fica claro que Selton Mello expõe sua obra com sinceridade e conhecimento, mas existem ainda falhas comuns a diretores que estão começando sua carreira. No caso de Selton esses erros não atrapalham inteiramente o andamento do filme e ele consegue nos deixar interessado pela sua história, apesar das poucas respostas e resoluções apresentadas. É de se esperar novos filmes desse ex-ator e agora realizador e contador de histórias.
Kauê Klomfahs Marin Maria
Feliz Natal e Próspero Cinema Novo
O ator Selton Mello estreia como diretor com um longa-metragem que de feliz só tem o nome. Com o irônico título “Feliz Natal” , o filme de Selton visa abordar questões familiares através do conflito causado pela visita de Caio á sua família após anos de separação. Caio retorna na noite de Natal em busca de reconciliação e em uma tentativa de entrar em termos com seu passado , devastado por uma desmedida somente revelada no clímax. Leitores mais atentos ficarão empolgados com essa sinopse, talvez o próprio Aristóteles ficasse, porém o resultado final é: muito movimento e pouca catarse.
O problema maior talvez esteja no roteiro, não em sua estrutura de desenvolvimento, mas na construção dos personagens. Há poucos elementos indicativos em relação a sua personalidade, seu passado, suas ambições ou verdadeiras opiniões. Os personagens verbalizam intenções mas agem de maneira aleatória e sem propósito. Me pergunto por exemplo, qual foi a relevância da cena em que Graziela Moretto se observa nua no espelho , ou da conversa na beira da piscina.Há também passagem em que o amigo de Caio é baleado, sua única função seria promover a reconciliação dos irmãos após uma recente ruptura, mas no entanto nada acontece, temos mais um evento em que a dramaticidade se baseia quase que exclusivamente no fato de haver um personagem supostamente carismático em uma situação de proximidade com a morte.
Outro indicativo de falta de elaboração dos personagens é o constante uso de super-closes. Talvez tenha sido um experimentalismo excêntrico de um jovem diretor ávido em mostrar serviço, entretanto,fica no ar a sensação de um certo desespero em relação à tentativa de se criar intimidade com os personagens. Como se proximidade física suprisse sua má construção.A edição também deixa muito a desejar e a super utilização de inserts dá ao filme um ar de amadorismo pretensioso.
Todavia Selton conseguiu extrair atuações maravilhosas ,não só de Darlene Glória e do menino Fabrício Reis, como de todo o elenco. E o violão muito bem tocado da trilha sonora (as vezes mal utilizada)do talentoso produtor musical Plínio Poeta ,além de suprir falhas na estrutura, contribuiu de maneira decisiva na passagem para o último ato.
Apesar de Feliz Natal pretender acertar como Altman mas somente repetir os erros de Vincent Gallo, é um filme denso e ousado, sem espaço para trivialidades e com grandes atuações. É o cartão de visitas de um diretor que, apesar dos equívocos , trás algo antes nunca visto e demonstra uma característica que é sempre bem vinda em qualquer campo artístico :inquietação.
Celso Cunha
O filme de Selton Mello não conseguiu cumprir suas pretensões. Apesar das boas atuações, a trama, que parece sugerir um caminho interessante, se mostra confusa, pois não há aprofundamentos nas motivações e nos destinos dos personagens.
A trama começa a partir do momento em que Caio, que é dono de um ferro-velho no interior do Rio de Janeiro decide ir até à capital para passar o Natal com a família que não vê há anos. Mas esse seu retorno provoca reações das mais adversas possíveis por conta de um erro que cometeu no passado, e ele vê que sua família não está tão bem assim: o casamento do irmão não está bem, o pai desconta suas frustrações em sexo irregrado com mulheres bem mais novas e demonstra ao filho que não conseguiu perdoá-lo, a mãe desconta a suas com bebidas e a cunhada, que se mostra mais compreensiva, vai se mostrando, também, muito confusa em relação a si mesma ao longo da história.
Caio relembra o seu passado mais feliz, dando um tom de nostalgia e arrependimento ao filme. Entretanto, o que poderia se tornar uma narrativa rica, reflexiva, cheia de conflitos a serem explorados, se mostra superficial, dando a entender que ela é apenas um pretexto para Selton Mello fazer experimentos como diretor.
Marco Marão
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