terça-feira, agosto 04, 2009

No embalo dos festivais

No embalo dos festivais

Alunos de cinema nunca tiveram tanto espaço para divulgar seus filmes

Bruna Tiussu - Especial para O Estado de S. Paulo

Ricky: 'Um obstáculo no Brasil é ter chance de exibição e distribuição comercial'

JONNE RORIZ/AE

Ricky: 'Um obstáculo no Brasil é ter chance de exibição e distribuição comercial'

SÃO PAULO - Vida de cineastas profissionais pode ser complicada, mas a dos iniciantes nunca foi tão fácil, graças a um pacote que mistura avanço tecnológico, oferta razoável de graduações em Cinema e festivais, muitos festivais – cerca de 50 no País, só para filmes de universitários. “As novas tecnologias tornaram muito mais rápida a edição dos filmes e os festivais dão visibilidade. Sem contar que há outros meios de divulgação, como internet e celular”,diz José Gozze, coordenador do curso de Cinema da Faap. “Antes o aluno fazia um curta que ia para uma salinha, só para pais e amigos verem.”

“Percebe-se também um salto qualitativo na estética e na linguagem”, afirma Elianne Ivo, responsável pelas produções do curso de Cinema da Universidade Federal Fluminense, cujos alunos rodam 40 curtas por semestre. De acordo com o último censo do Ministério da Educação (MEC), de 2007, o Brasil tem 32 cursos de Cinema como o da UFF e 45 de Audiovisual, a maioria produzindo em tecnologia digital.

Hoje é comum alunos filmarem de olho em festivais – nacionais ou internacionais. É o caso de Ricky Mastro, de 31 anos, quartanista da Faap, autor de curtas premiados. Filmado em 2008 para uma disciplina do curso, Cinco Minutos fala da elasticidade do tempo. Foi exibido na mostra paralela de Cannes; no Newfest, de Nova York; no Festival de Santa Maria da Feira, em Portugal; e em oito festivais brasileiros. “Ser escolhido é sentir-se reconhecido. Um obstáculo no Brasil é ter a chance de exibição e distribuição comercial.”

Ricky agora está produzindo seu trabalho de conclusão de curso, o curta A Mais Forte, sobre a dificuldade de aceitação do outro nos relacionamentos. Ele diz preferir falar de temas ligados à sua realidade. “Quando dirige um filme, você tem de fazer os outros envolvidos no projeto se apaixonarem também por aquilo. Por isso, você precisa falar de algo que conheça muito.”

Ricardo Monastier, de 24, aluno do último ano da USP, também pensa assim. Seu próximo filme será sobre fases de mudança na vida. “Quando você fala de temas distantes é mais fácil errar.”

Para Gozze, há uma certa coincidência de temas, reflexo da geração e suas preocupações. Mas ele diz que, mesmo assim, há variedade. “Aparecem documentários, animações, produções poéticas.”

Um dos eventos mais concorridos é o Festival Brasileiro de Cinema Universitário, no Rio, dividido em mostra nacional e internacional. A edição deste ano começa amanhã e vai até 9 de agosto. A coordenadora do festival, Flavia Candida, também diz que há coincidência de temas nos 350 curtas inscritos. “Eles têm personagens enlouquecendo, atormentadas, querendo mudar de vida. Acho que reflete o vazio da geração que, apesar do excesso de informação, se vê muito solitária.”

Dos 44 filmes exibidos, 7 serão premiados. O júri também escolherá o melhor roteiro inédito, que será depois produzido por meio do Projeto Sal Grosso, braço do festival que recebe recursos de parceiros.

Raul Maciel, de 21 anos, da UFSCar, ganhou a 8ª edição do Sal Grosso, em 2008. Seu curta Água Viva fala da angústia de uma jovem que desconfia estar grávida. Para rodar o filme, Raul teve a colaboração de alunos da Faap, UFF, USP e da Faculdade de Artes do Paraná. “O Sal Grosso quer promover a interação de alunos de diferentes universidades.”

Outro evento importante que, apesar de não ser restrito a universitários, também recebe filmes de amadores é o Festival do Minuto. O cineasta Marcelo Masagão, idealizador do projeto, o chama de “festival das ideias”. “O grande lance dos estudantes é que ainda não estão inseridos no mercado, podem experimentar sem compromisso.”

A equipe do festival recebe por dia, em média, 15 vídeos de 1 minuto de duração, avaliados pelos 32 curadores juniores, a maioria universitários. “É uma escola para nós”, diz Verônica Brandão, de 27, curadora e aluna de Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás. Para ela, tanto os curtas que avalia quanto os produzidos na UEG têm mostrado qualidade. “Ainda pecamos na técnica e abusamos de clichês, mas acho a criatividade exuberante. Universitário é um povo empolgado. É só dar asas e dinheiro que vamos longe.”

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