Daryan Dornelles/Folha Imagem |
Em meio à crise, com pouco dinheiro e muitas estrelas, o diretor Mauro Lima roda "Reis e Ratos" reaproveitando cenários do filme "O Bem Amado" e deixando o pagamento de cachês para depois
Com uma câmera na mão, uma ideia na cabeça e um aperto danado para conseguir financiamento em tempos de crise, o diretor Mauro Lima ("Meu Nome Não É Johnny") e a produtora Paula Lavigne ("Lisbela e o Prisioneiro", "Ó Paí, Ó") reuniram, em tempo recorde, um elenco de primeira num cenário deslumbrante para rodar um longa em duas semanas. Detalhe: sem gastar quase nada -e sem pagar um tostão para atores como Rodrigo Santoro, Selton Mello, Cauã Reymond e Otávio Müller. Deu a louca no show? Nada disso: é a crise mesmo que está obrigando o cinema a, pelo menos neste caso, improvisar.
Guel Arraes concordou em ceder cenário e figurinos e, com isso, virar produtor do trabalho. A O2, do diretor Fernando Meirelles, também se associou ao projeto, disponibilizando um roteiro do próprio Mauro no qual já trabalhava. O dono do imóvel onde funcionava o estúdio, no Alto da Boa Vista, liberou mais duas semanas sem cobrar aluguel. A equipe técnica de "O Bem Amado" topou esticar no batente. E assim surgiu "Reis e Ratos", cujas filmagens, que duraram apenas 17 dias (contra 44 de "O Bem Amado"), terminaram ontem.
"Uns dois dias depois, o [escritor] Marcelo Rubens Paiva me ligou e disse: "Mauro, tô aqui no Porcão [churrascaria do Rio] com a galera". Eu fui pra lá. E o Rodrigo Santoro tava no meio. Falei o que tava fazendo. Ele disse: "Manda o roteiro"." Selton, já incorporado ao filme como ator e produtor associado, entrou no circuito: "Dei o telefonema fatal para o Rodrigo: "Vamos nessa, é legal"." Dias depois, Selton encontrou Cauã Reymond num avião. Convite feito, convite aceito. "Quando o Mauro me falou em botar uma roupa e filmar em duas semanas, ele me pegou. Gostei dessa coisa de guerrilha, de fazer não pelo dinheiro, mas de vestir a camisa e fazer acontecer. Falei: tô dentro", afirma Selton.
"E foi virando essa coisa de vários atores conhecidos fazendo um filme, tipo "Ocean's Eleven" [de 1960] com o Frank Sinatra, o Dean Martin", diz Selton. "A gente não tem irmãos Cohen no Brasil, a gente não tem filme pra fazer um monte de loucura. Estamos aqui pela diversão. Tem a ver com celebrar a vida. Fazer um filme e ser feliz." Os atores concordaram em trabalhar de graça e em só receber cachê "quando o filme for para as telas", diz Mauro Lima. Para rodar as cenas e "colocar o filme na lata", o diretor levantou R$ 500 mil com "um amigo que não quer aparecer".
Paula diz que depois vai "correr atrás de dinheiro", cerca de R$ 1,5 milhão, para mixar, editar, finalizar e lançar o filme.
"Estamos acostumados a fazer filmes milionários no Brasil se comparados, por exemplo, com os argentinos. Muita gente vai ter que aprender agora a fazer filme barato", diz Tomás Portela, assistente de direção que já trabalhou em filmes como "Ensaio Sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles, e "Meu Nome Não É Johnny", do próprio Mauro Lima.
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